quinta-feira, 20 de setembro de 2007

«Brilham as vértebras duma espinha que se atravessa no ténue fio que queremos esticar até à deformação do comprimento.»

Cumprimento. Mas sem saudar.

As filhas das falhas. Folhas de…compostas imaginações. Estilhaços arrumados nos laços que se espalham por um ar denso demais para estar quieto. Tão parado como a ocasião que foi esquecida pela percepção do ontem. Amanhã a manhã lá estará quase virgem nas névoas secas e mornas. Será sempre na volta da sinuosidade quebrada que as chagas se prenderão às cegas. Segue. Segue até estreitar e espreita. Cada tempo que agradece ao espaço de cada vez que se perdem alegremente nas dimensões erróneas da culpa. Perdoam-se mas não se abraçam. Abraçam-se mas não se negam. Negam-se sem nunca agredir aquilo em que mentem.

A única mentira. Jaz no silêncio. Acorda a calma. Acalma. Em paz se expande. Agreste, assobia nas estepes quase sólidas da solidão delapidada. Mais que bruta, torna-se brutal na doçura que inflige. Impõe-se pelas intenções falhadas. As filhas das falhas…

quarta-feira, 23 de maio de 2007

(t)em tempo(s)

(Desafiado por Just me...AQUI)

Example

Nesse lacrimejar de ódio vão-se confundindo as cores. Remisturadas num REMOINHO DE ILUSÕES que turbilha as emoções e as funde no fino véu dos gritos imaginados. E calados. Jazem caídos de todas as memórias, gastas a cada golpe tentado, fortes a cada tentativa golpeada pela raiva daquilo que afinal nunca será. Mais que tu ou eu, há um nós que parece nunca ter respirado todo o anil. Sem o fel condensado num branco puro, mas agreste. Alvo, mas pérfido…

Example

…na espuma vã dos apegos, o que me contas não são segredos. São degredos. São decretos. E nas ondas daltónicas dos sentidos, aguardo embalado e adormecido pelos SONS QUE BRILHAM DA NOITE. Sem pressas, porque a angústia amadurece melhor no marasmo e floresce na aurora do silêncio…

Example

…ao lembrar-me de estar suspenso e sustentado nas ténues linhas do carinho, sorri e inspirei todas as PALAVRAS QUE RESPIRAM NO PENSAMENTO. Balanço-me furiosamente sem medo da queda. “Daqui o melhor que me pode acontecer é esquecer”, penso enquanto torço o torso, agora extenuado e já sedento de uma cumplicidade por demais desejada “Serás fêmea. Serás minha”. Mais uma vez aguardo pendido…mas não rendido…

Example

…com a transparência da espera, finco os pés na corrente do tempo que me falta. Perante aquele escarlate desfocado em ambas as retinas, resta-me arrancar um pedaço de luz, diluir-me e espalhar UM BEIJO SABOREADO A TODOS OS VENTOS.

(talvez se consigam reunir de novo todos os propósitos que dividiram o espectro cromático de um início volátil)

segunda-feira, 2 de abril de 2007

«E depois chega a luz das coisas, por fagulhas atreitas a queimaduras de graus recuperáveis em faixas alvas e desengorduradas.

Dói a pele, mas não o nervo.»

Assim se quedam os gestos na brusquidão ocasional.
A vida chora as dores passadas, nunca as futuras. Anda não há esse tempo nem essa vontade…nem essa verdade.
Dos tempos alguns restam momentos nenhuns.
A alegria transforma-se em alergia (e alegre…mente).
Rasga-se a realidade e decanta-se o real da idade. Faz-se o mesmo à insanidade para cantar a insana idade (ao canto do canto).
Os gritos outrora aflitos tornam-se agora feitiços mestiços, e ariscos em ambas as formas.
Assim me torno indefeso em defesa de me tornar…a mim…

Assim...

ENJOY THE SILENCE


Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

(sempre o meu…nunca o vosso…por enquanto…)

sexta-feira, 16 de março de 2007

«Tudo muito próximo da transparência vítrea que, muito provavelmente, se desvia em padrões quase regressivos, mas certamente rectos.»

Os padrões! Em tantas cores transparentes se vislumbram opacidades sinuosas. Silhuetas sismadas e sisudas que se fincam em parasitismos simbióticos e por demais benévolos. É na rectidão que se entortam os comportamentos usados, provados, mas nunca regredidos na…certa...mente. De esguelha esgalhadas no tempo, seguem as falhas como filhas da memória (tão amadas por isso mesmo, tão beijadas quanto ausentes, tão desejadas quanto assíduas na existência daquilo que se tenta ser…e é-se tentado a ser)

São raras as queratinas que se querem quedadas pela história das penas. E voltam, como na volta de um odor envolvente que inebriou num passado sempre presente, na sua forma mais indicativa ao infinito futuro.

Com recursos bocais, vingam cada derrota, vergam cada déspota vigente, variados em deliberações finais. Juízos! Juízes em causa vãs. Deuses agnósticos de si próprios. Avessos a fés internas. Incrédulos nas vezes que se ajoelham nos milagres que esperam crer. Cabisbaixos, se vão rezando os revezes e revezando nas vezes falhadas pela certeza do meio…que nem sempre fim…alcançado….almejado pela inanidade de uma alma tão fugaz como a própria morte. Parece que perece, nos momentos de encher o peito de qualquer coisa que encha aquele nada que contrai.

(Respiremos…que a fuga nem sempre tem de ser arejada pela força, e muito menos pela forca)

É rápido? Então ´bora lá…

Este outro desafio é lançado por just_me alguém que não se contentando em ser só si própria, ainda resolve tentar que outro o seja também. Ora cá vai:

JOGO RÁPIDO DE RESPOSTAS:

01- Quem você admira?
(antes demais, não gosto muito que me tratem por você, portanto começamos mal)
Admiro muita gente, mesmo muita gente a sério (e não me apetece individualizar, pode ser?)
02- O que faz nas horas vagas?
Acho que esta está respondida só pela resposta a este desafio…
03- Característica que mais gosta em você?
(outra vez esta do você?!? Mau…) O humor e saber guardar um segredo
04- Defeito?
O feitio (é sem dúvida o meu maior defeito…ainda que não necessariamente negativo)
05- O que não suporta nos outros?
Falsidade
06- Um medo?
O cancro
07- Uma lembrança de infância?
Brincar só de calções no mato que nem um tarzan
08- Uma mania?
Falar
09- Uma viagem inesquecível?
Cataratas do Iguaçú
10- Um homem bonito fisicamente?
Brad Pitt
11- Uma mulher bonita fisicamente?
A minha
12- Livro de cabeceira?
A causa das coisas
13- A canção da sua vida?
São muitas que eu praticamente respiro músicas…mas se tem mesmo de ser: Black (Pearl Jam)
14- Sou péssimo em?
Falar de mim
15- Sou bom em?
Fazer rir
16- Passo este desafio a…
Ninguém

7 (logo a seguir ao 6 e mesmo, mesmo, antes do 8)

Aqui fica um Big desafio ao qual tentarei responder com a agudeza da esquina de um 7 (“tentarei” disse eu, mas não prometo nada que isso é uma das coisas que não faço bem…)


7 coisas que faço bem:
- não prometer (ora lá está! Prometer é sempre algo difícil de cumprir e eu gosto de cumprir)
- doce de ovos (uma massa uniforme e pastosa, sem ser demasiadamente sólida)
- arroz doce (doce e com um creme resultante dee uma hora a mexer sem parar)
- avaliar gente (normalmente não me engano, e quando isso acontece, fico um bocado aflito…porque não é suposto enganar-me)
- ouvir (acho que oiço bem)
- judiarias (expressão esta utilizada em lembrança das minhas avós, que recorrentemente me acusavam de ser “judeu” as hereges! – um beijo lá para ambas, que não sabiam ler e também não acredito que no Céu tenham aprendido... por isso estou à vontade)
- argumentar (mas sem discutir)
7 coisas que não faço ou não sei fazer:
- discutir (é-me muito difícil discutir na acessão negativa da palavra)
- trair a confiança de alguém (por isso é que não gosto que confiem em mim, é um peso demasiado pesado e definitivo para aguentar)
- dizer algo que não penso ou sinto (prefiro estar calado e passar por antipático)
- ofender alguém (claro que ofendo “superficialmente” árbitros e condutores, mas é só “superficialmente”)
- guardar rancor (esqueço-me muito das coisas, feliz ou infelizmente)
- acordar cedo (não sei, pronto!)
- responder a desafios que pretendam revelar-me
7 coisas que me atraem no sexo oposto:
- a voz
- sentido de humor descomplexado
- a beleza interior (seja lá - e tudo - o que isto signifique)
- o sorriso
- ser do sexo oposto
- a sensibilidade
- o facto de ser casada comigo
7 coisas que digo frequentemente:
- fonix!
- porra!
- se faz favor
- obrigado
- salvo seja!
- amigo
- querida
7 actores/actrizes:
- Brad Pitt
- Robert Deniro
- Nicolau Brayner
- Al pacino
- Helen Hunt
- Michelle Pfiffer
- Kimberly Chambers


(já está! E não passo a ninguém…”não faças aos outros o que não gostas que façam ao outro”)

quarta-feira, 7 de março de 2007

«São tantas as vontades de conseguir, finalmente, a resolução…

…das matérias importantes, que depressa se vai a circulação pulmonar dos sangues oxigenados pela quietude dos aurículos em melodias compassadas por ventrículos que, não sendo ventríloquos, sempre auxiliam outros murmúrios sussurrantes em sonoros silêncios.»



and so it is
just like you said it would be
life goes easy on me
most of the time
and so it is
the shorter story
no love no glory
no hero in her skies
i can't take my eyes off of you
and so it is
just like you said it should be
we'll both forget the breeze
most of the time
and so it is
the colder water
the blower's daughter
the pupil in denial
i can't take my eyes off of you
did i say that i loathe you?
did i say that i want to
leave it all behind?
i can't take my mind off of you
my mind'til i find somebody new

the blower's daughter (Damien Rice)

De repente a noite…

Um escuro que se torna tão agressor como o frio (ou a dor).
Sumindo o corpo em fomes estranhas, em faltas rápidas.
Interpretações abruptas que violentam a calma, emprenham a letargia pelo seu flanco mais frágil. Melancolicamente deixa-se contaminar cada palavra pelo descanso do sorriso. Engorda a tristeza até rebentar em esperança, tal como o Amor no ventre de uma Mulher.
São aquelas faces em descanso extremo que se desenham dentro do escuro…dentro da certeza do que é amar…incondicionalmente…amar.
Um abraço. Tão verdadeiro e definitivo como o meu abraço. Aquele abraço…sempre …sempre…

(dedicado só a ti, Tristeza, que tentas consumir os restos sem passar de uma ilusão a vibrar repetidamente em melodias desfeitas nas membranas selectivas que filtram tudo o que não se consegue conter no olhar…está na hora…de olhar)

domingo, 4 de março de 2007

«Entre a variância das letras finais…

…terminam as dúvidas que questionam a matemática das coisas geometricamente esfumadas, num tempo em que raramente ocorrem fenómenos raros, concorrendo, entretanto, para um resultado amorfo na igualdade pela grandiosidade solidária entre amores rasgados pela multiplicidade da divisão. Ou será pela subtracção adicionada? Também não interessa, já que as aritméticas se urdem em fogos-fátuos, não em fumos factuais.»



When I look into your eyes
There's nothing there to see
Nothing but my own mistakes
Staring back at me

[this text is played backwards]
Everything has to end, you'll soon find, we're outta time, left to watch it all unwhind
Everything falls apart, even the people who never frown eventually break down
Everything has to end, you'll soon find, we're outta time, left to watch it all unwhind
Everything falls apart, even the people who never frown eventually break down
[end backwards talk]

I've lied
To you
This is the last smile
That I'll fake for the sake of being with you
(Everything falls apart, even the people who never frown eventually break down)
(Everything has to end, you'll soon find, we're outta time, left to watch it all unwhind)
For sake of being with you
(Everything falls apart, even the people who never frown eventually break down)
The sacrifice is never knowing

Why I stayed with you
Just push away
No matter what you see
You're still so blind to me

[more backwards talk]

I've tried
Like you
To do everything you wanted to
This is the last time
I'll take the blame for the sake of being with you
(Everything falls apart, even the people who never frown eventually break down)
The sacrifice of hiding in a lie
(Everything has to end, you'll soon find, we're outta time, left to watch it all unwind)
The sacrifice is never knowing

Why I stayed with you
Just push away
No matter what you see
You're still so blind to me

Reverse psychology's failing miserably
It's so hard to be, left all alone
Telling you is the only chance for me
There's nothing left but, to turn and face you
When I look into your eyes, there's nothing there to see
Nothing but my own mistakes staring back at me
Asking why...
The sacrifice of hiding in a lie (why)
The sacrifice is never knowing

Why I stayed with you
Just push away
No matter what you see
You're still so blind to me
Why I stayed with you
Just push away
No matter what you see
You're still so blind to me

(Linkin Park - P5hng Me A*ay)


Não é a expressão…
Não é o coração…
Não é o esgar…
Não é o altar…
Não é a idade…
Não é a verdade nem a vontade…
Não é o estar…
Não é o olhar…
Não é o momento…
Não é o arrependimento…
Não é o alento…
Não é o traço…
Não é o embaraço…
Não é o corpo:
Fino e absorto
Não é o grito (aflito)
Não é a dor,
Nem o amor
Não é a melodia…
Não é a apatia…
Não sou eu…
Não são outros…
Não somos nós…

Não é a voz…

É a raiva... e é atroz!

(You were just like me with someone disappointed in you)

domingo, 25 de fevereiro de 2007

«É tão curto, tão próximo, tão meticuloso que raramente deixa a infinidade do lato quase senso. Não é comum, mas sente.Sente-se.Senta-te.Ali ficamos»

Numa réstia de noite…

Dois corpos entrelaçados volatilizam-se…quase parados…
Aquele exíguo rectângulo, agora acalorado pelo momento, era um infinito explorado em cada superfície.
Dois vultos desgovernados diluíam os limites da gravidade estouvada pelo espaço.
As mãos incautas, exaustas, desafiavam todos os interiores. Desconfiavam todos os pudores. E poderes.
As bocas alternavam na procura mútua dos oxigénios que sustentassem cada investida pela pele.
Os suores fecundos ardiam na carne já rasgada pelas garras do êxtase.
As ancas agrediam-se. Agradavam-se. Gradavam o desconhecido na morfologia do espasmo.
A cada investida, os sexos confundiam-se com as línguas. Mortas nas palavras, exultadas nos olhos, exaltadas nos gritos que adormeciam os tímpanos.
Já não haviam nem peitos nem costas nem pernas nem braços nem faces. Ou corações…só nos pulmões se cadenciavam as demandas daquelas promíscuas privações encadeadas. Encandeadas.
Já se harmonizavam os esgares.
Já se orquestravam as dores.
Já se molhavam as cores.
Já se bebiam odores.
Já choravam em mares…
Todos os olhares convergiam num denso breu de harmonias imaginárias e galopantes. Murmúrios furtivos que escandalizavam os paradigmas do estar. Do chegar ali. Naquela modorra tão avessa, tão líquida, tão espessa de vagas derramantes na trasfega dos egoísmos partilhados por um só ínfimo de algo que os desprendesse à razão oculta.

Finalmente, o tudo. O Amor precipitado na condensação condenada à sublimação das gotas escorridas pelo cansaço resgatado ao segredo. A fertilidade espalhada por cada um dos sentidos. Os sentidos perdidos por cada um dos medos. Os medos ganhos a cada um dos beijos. Os beijos anulados a cada milésimo, quase a cada segundo…

Numa réstia de madrugada…

Finalmente…

Um só corpo imóvel…arfava no chão gelado.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

«O que varia, avaria. Avaramente.»

Pouco sentido.
Louco. Ávido.
Árido.
Adido.
De joelhos no vértice da angústia, apertava fortemente a cabeça para que as explosões de ânsia não lhe rachassem o crânio de dentro para fora. Cerrava as pálpebras para conter o fogo do olhar, não fosse incendiar o ódio que respirava. E transpirava.

A boca, seca de compaixão, ainda vertia os últimos grãos daquela dedicação convulsa. Inflamava pela aparência vã das melodias irreversíveis da agonia. Agonizava sim…agudizava aquele incómodo silêncio tão completo de delírios próprios e esquecimentos rápidos…os esquecimentos…tão rápidos…tão ríspidos…tão raros…tão esquecidos…

A cada síncope, tentava solver-se em tudo aquilo que nunca foi. Re-solvia-se no que não se resolveu. Escoava a lasciva calma imposta pelo extenuar daquele momento. Daquela magnitude tão centrada no estômago. Ulcerações deixadas ao acaso da proximidade nefasta. Tantas e tantas vezes havia escarnecido das queixas que agora mal se queixava da carne…viva por fora…lívida por dentro (já toda vivida).

Era então que afluíam as emancipações em prantos urgentes que roíam e ruíam as crenças d’outrora. Querenças dum agora tardio no desejo mas tão deleitado na hora. Espampanante. Obsoleto e degradante. Tal como tinha adivinhado nos futuros torrenciados pelo rosto a fora. Tal como sempre esperava de cada vez que falecia pelo desânimo de desfalecer no ânimo.

Inevitável. Intrigante. Intransponível. Irritante. Sempre foi. Estavam ali as palavras a romperem-lhes os lábios, bastava segredá-las…assim, num sopro…assim, num nada…

“Como poderei ser tu, se me desprezas? Como posso amar-me se menosprezas? A maior parte de nós…”

(afinal estava só..no final…era só…dó...)*



*mas também podia ser “ré”, “mi” ou até “si” ;)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

«Ali repousa, ali tranquila, ali chama, ali apaga, mas nunca pousa, nunca aniquila, nunca brasa, e pouco mais acende.»

«E depois, nem sempre as batalhas que reservo comigo, são destravadas por outros. Quanto muito, ganhas. Quase sempre, empatas.»

Um cabrão cheio de bondade que se torce para não se desfigurar num mundo de figuras destorcidas. Ostracizado no próprio desprezo. Empapado em angústias díspares. Desmotivantes, que afastam cada uma das pró acções previstas no marasmo. Revistas no pasmo. Atreitos à fuga…

Assim, o vejo de cada vez que se desfaz perante mim.
Assim, me mente para se demonstrar. De monstro.
Assim, nos abraçamos em despedidas despidas de ódio, mas indiferentes na causa.
Assim, o agrido para não o perder. Para sempre a cura. Para sempre aqui. Extra. Ordinário nas ordens com que nos obriga a ignorar o que se apruma.

Ali…está ele.

A…li.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007


O
riso
emerge
da representação
imaginária desdobrando-se
no próprio sentido da percepção individual.

A sátira da vida contrasta com os valores apreendidos, instiga a reflexão, enraizando-os lúdicamente para que lhes possam extrair todo o significado visualizando novos caminhos que vos negam o senso. Usem!!! Abusem do sarcasmo ao vosso gosto, apresentem-no num prisma de opções pelas quais os vossos seguidores provem o seu sabor procurando a verdade. Esta é uma representação que não quer ser só uma adaptação do antigo, é o significado de tudo, é a preparação do presente com olhar no futuro, é um aviso para gerações vindouras na sua instituição dos códigos de valores. Sorriam! Mas lapidem o seu significado surreal pela soma dos momentos transcendentes que captaram, mesmo que alguns na cegueira possam apelidar-vos de alquimistas das fezes. Palavras gritadas após o término da peça de Angry Vildog, famoso dramaturgo, ao seu grupo de actores num espectaculo de beneficencia em Paradança, sua terra natal...
- Lindo... Lindo... Angry, belas frases Vil...dog... aghrrr... cof... cof! Vociferava exuberante e roucamente Lamule Russeau.
- Lamule, se não fosses tão estapafúrdio, certamente já tinhas sido promovido a encenador, vem cá! Vou curar-te isso com esta receita oriental. Ora bem, aqui diz para apontares o meristema apical, ou seja o bico do supositório para a cavidade recto-anal, fazendo pressão e forçando a entrada pressionando ainda mais, até sentires cócegas no pâncreas e espirrares três vezes seguidas em Mi menor. Afirmou Sophy Sup, resgatada do teatro central de Pequim pelo seu marido algarvio embarcado nos cruzeiros. Como cu*-autora de alguns trechos menos lubrificados da peça, proferia algumas directrizes medicinais ao mesmo tempo que retirava as indumentarias de Engrácia
- Atchum... Atchuimmm... Atchimmmmmmmmmm.
- Se continuares a treinar talvez atinjas o Nirvana, vá, vamos lá outra vez.... Mas vacuidade moço que o mar tá bravo ainda molhas as nalgas! Até parece que foi ontem que te peidaste violentamente.
- Não preciso de chegar ao "nevana" para ser encenador, só tenho de sair desta vila de loucos com saúde, não tenho de mendigar a um bissexual marinheiro e provinciano para me alinhar os olhos em bico. E não precisas de me perguntar se eu sei o que é mendicidade? Claro que sei, Men di cidade, "homem da cidade", dah!
- Cala-te ruminador de riquezas, tu, onde os dias roem os ânus. Outras que tens não usas! Cala-te e cura-te!
- Não desfazendo, minha chinezinha preferida... Mas a chaga é doce.
- Pois cala-te, quando abri o armário, veio assim um cheiro antropomorfo... Faz como o meu marido, fecha-o na gaveta da escolha certa!
- Chega de arestas linguísticas, chega de heresia manuseável, usem o sarcasmo como o sol vos usa, trespassem esses cumes e essas cristas navegando na poesia, vão até ao mar saltando em versos, em palavras que lavram terra! Saiam dessa existência, ouçam a música que atravessa privações, vivam a alegria, consumam amores selvagens, sacrifiquem-se pelo perdurar da vossa arte tão intensamente como a ignoraram até agora! Afirmou Angry interrompendo aquele desventrado bulício rectal.
A sala encheu-se de vazio no caminho iluminado pelo calcorrear da saída. Mesmo lá fora sentia-se o broar temporário das palavras até ao recomeçar. Os sinais das ervas moídas por pegadas desprovidas de vida eram evidentes, arbustos desviavam ramadas da insignificância esparsa. O pó ocre das passadas erráticas entranhava-se na pele e na roupa desfigurando a visão abafada pelo ruído humano da alarvidade tecida numa curta representação artística. E num sussurro imperceptível lançou novamente ao vento "em breve meu amor...em breve... irei chamar-te"
Entre o plácido caminho que silenciava o ruído e a ignorância, passavam esses vultos disformes absorvendo momentos. A exigência era dissimulada na mais profunda inércia perante os movimentos exteriores. Qualquer transeunte que penetrasse na seda urdida pela experiência que o tempo confere seria imediatamente sugado na energia excedente. O brilho que leva à loucura transformar-se-ia na delícia da sensatez. Daí caminhavam procurando restabelecer algo que nem sonhavam, cada vez mais perdidos. Quando voltarem atraídos no desconhecimento, sentindo-se mais fracos, questionarão o que fazem ali...
- Ó tu, que possuis um apetite a caminhar para o opíparo, chega aqui... não receies!
- Como?
- Espero-a desde a primeira vez! Algo terá de ser transmitido e recebido apesar da sua desconhecida surdez só permitir o olhar desatento.
- O quê? Pergunta ela.
- Não sei... Diga-me! Mas calmamente e seja clara.
- Nada lhe tenho a dizer! Responde confusa.
- Se nada tem a dizer siga o seu caminho, porque voltou aqui?
- Tive a sensação que tinha algo para me dizer!
- Nada tenho para lhe dizer! O que procura?
- Perdi-me do grupo que acompanhava.
- Todos se perdem quando passam aqui e nada dizem. Saia dessa vida de silêncio mudo, lembre-se que tem uma vida para contar, dê-lhe significado! Realce-lhe o brilho e a cor. Escreva-a com sangue não para que a leiam mas para que a decorem!
- Quem é você?
- Simplesmente alguém que a ouve muito bem mesmo que esteja na sua paz do silêncio.
- A tua arquitectura mental torna belo o feio, sublime o bonito e transcendente o mundano, já que consegues tanta coisa, será que não me conseguias endireitar os dentes? Ah, lá estão eles... apontando para o grupo ruidoso. Afastou-se sorrindo aridamente do meu desencanto, não seria a última vez.
Não pode ser! Fundia-se o pungente grito nas asas das gargalhadas erguendo-me acima do tudo. Novamente tinha mudado de corpo, novamente teria de nascer protegido pela juba do Leão que já fora, assente nas patas do camelo sulcando aquelas ardentes areias com um só destino, retirar o véu ao conhecimento sedento de atenta lisura, devassar o futuro sem receio do presente. Não pode ser mas é! Gritava no mais profundo frio da alma desmoronando areias seculares que se abriam em segredos ainda hoje desconhecidos pelos crentes ao tentar inventar o nada. Ali estava ela, a paixão, o segredo, a raiva ódio e ciúme, a traição de Deus pela erosão da verdade. Finas areias espalhadas em ondas geometricamente definidas em equações resolvidas. Descoberta pelo grito, recolhida pela razão mas escondida na inexistência da lógica. Observando aquele sublime vapor colorido que me entranhava a essência do ser explicando-me o porquê de toda a descrença, negação descontente de qualquer forma divina apresentada fora da sombra do interesse. Ali estava ela, orgulhosamente superada de virtudes transmitidas pelas paixões e espasmos desgarrados, músculo da sabedoria erguendo o ícone da esplendorosa beleza à sua esperança mais elevada. Nada mais existiria, todo o cortejo dos anos tinha sido imediatamente apagado transformando-se serenamente sem reservas naquela forma limite.
Regressou alguns minutos depois questionando-me:
- Que tenho para te oferecer, que te posso dar que ainda não tenhas tido?
- Simplesmente tu!
- E tu o que tens para me dizer, o que tens para me dar?
- Novamente te digo, nada tenho para te dizer nem para dar, tu és tudo e tudo tens!
- Pois digo que os meus olhos nunca viram um homem, nunca se encheram nem a metade com mais do que a imagem da populaça!
- É só isso que teria de ouvir de ti, não to poderia dizer soltando aos gumes do vento palavras vãs, é isso que procuras! Saberás reconhecê-lo na sua própria grandeza quando todos os teus desejos se afunilarem nos subornos do querer ver, quando o eco do teu querer mesmo após a tua morte for ainda mais escutado no outro mundo.
- Quem és tu? Tenho de perguntar novamente! Quem pensas que és para me transmitir palavras mais importantes e sábias de todas as que ouvi até agora?
- Alguém que te espera pelo mais alongado que a espera tiver, alguém que te receberá sempre jovem mesmo que percas ou renuncies à ávida capa que te conferem os traços e dons da juventude, alguém cujo calor te aquecerá mais do que mil homens friccionando-se no teu querer inconsciente de elogios previsivelmente vaidosos, alguém que te limpa do pudor amargo do pó sujo que respiras e que te revolve as emoções normais devolvendo-as ao verdadeiro voo da imaginação sedenta do sentir. Vem amanhecer da minha noite, onde a morte se finda e a vida se pausa, segue para o negro amanhã, logro do mais brilhante resplandecer gritante, neste vácuo do silêncio da minha existência outorgada em mesclas matizadas com inebriantes perfumes divinos.
- Não posso continuar aqui contigo!
- Eu sei e tu também sabes o que deves fazer.
Redimensionada a consciência reflectida numa única unidade, numa única conversa, que faria além de esperar? Qual o tamanho ilusório do sofrimento agora criado e sentido no depois? Só o tempo irá responder.
Não pode ser! De novo o grito, sentia tudo mais uma vez a transformar-se, da criança que sorria observando o tudo, erguia-se agora a única e majestosa figura possível, eu águia, «Et pluribus unum»... Gritou, distanciando-se de qualquer aproximação do algo mantendo no tudo, olhar imperial. Não pode ser! Quem sou afinal? Perguntava-me nas alturas fundindo com elas todo o conhecimento, revelando a verdade escondida. Pousada observava na sua magnificência trocando-lhe aleatoriamente os 5 ângulos absorvendo o até então invisível reflexo do único sol, Aton. Tudo havia que originava, sustinha e fazia circular vida como no local do sonho, pacientemente elaborado como profecia post eventum.
Menino nascido na areia aquecida no calor do pai Aton, meu menino. És rei!!! Terás esquecido que tal decisão foi sujeita a plebiscito e esmagadoramente reprovada?!? Despe os objectos ordinários da significância e neles descobrirás o sentido onde qualquer Engrácia se encherá de graça balançando na variação positiva do talento. A verdade que vês é aquilo que não consegues explicar a um cego. Vem anjo! Vem descobrir o sentido da existência despudorada e pungente, vem tanger o rasca através do peso das palavras que te procuram... Sequiosas. Vem juntar-te à tua sombra nesta incomensurável clareira de mitos, a sombra errática e vazia de percurso enquanto não a cobrires com a geometria da tua presença. Vem anjo menino. Rei nascido de árida rocha perdida à nascença e separada pelo sol e pelo vento em grãos de areia que se transformam em palavras, nessas palavras que formam frases... em frases que te dão vida... num texto.


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«Este post foi elaborado por BIGMAC através de uma colaboração de bloguistas onde DAMULARUSSA (Vacuidade, Mendicidade, Estapafúrdio, Antropomorfo, Opíparo) e OUTRO (Resplandecer, Mendicidade, Meristema, Plebiscito, Ontem), forneceram as palavras. IRRITADINHA ("Ora bem, aqui diz para apontares o meristema apical, ou seja o bico do supositório para a cavidade recto-anal, fazendo pressão e forçando a entrada pressionando ainda mais, até sentires cócegas no pâncreas e espirrares três vezes seguidas em Mi menor.", "Vacuidade moço que o mar tá bravo ainda molhas as nalgas!", "Vem amanhecer da minha noite, onde a morte se finda e a vida se pausa, segue para o negro amanhã logro de mais brilhante resplandecer gritante, neste vácuo do silêncio que a minha existência outorgada em mesclas matizadas com inebriantes perfumes divinos.", "Se eu sei o que é mendicidade? Claro que sei, Men di cidade, "homem da cidade", dah!", "A tua arquitectura mental torna belo o feio, sublime o bonito e transcendente o mundano, já que consegues tanta coisa, será que não me conseguias endireitar os dentes?") e RAFEIRO PERFUMADO ("Se não fosses tão espatafúrdio, certamente já tinhas sido promovido.", "E quando abri o armário, veio assim um cheiro a antropomorfo...", "Terás esquecido que tal decisão foi sujeita a plebiscito e esmagadoramente reprovada?!?", "Ó tu, que possuis um apetite a caminhar para o opíparo, chega aqui.", "Até parece que foi ontem que te peidaste violentamente."), constituíram as frases.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

A Última tentação de uma data de gente

Esta história que vos vou contar teve lugar nos recônditos de Portugal, mais precisamente na vila de Paradança, em tempos não muito distantes, ou talvez ainda mais perto. Como é que me chegou ao conhecimento? Há quem diga que foi o vento, há quem diga que foi uma águia, há também quem diga que foi tudo fruto duma imaginação doentia e de misturas alcoólicas pouco inteligentes. Fiquemo-nos pela hipótese da águia, que ainda consegue ser a mais credível.

Aviso desde já que quem estiver com pressa, à rasquinha para ir ao WC, com companhia à espera na cama ou desejoso de ver o Tempo de Antena na televisão, é melhor nem começar a ler, que isto é grande como o caraças, com nada mais nada menos que 4 Actos, um Epílogo, umas palavras finais de circunstância e a sempre imprescindível apresentação das personagens:

Engrácia das Coxas Salgadas, figura central desta história, atroz actriz de teatro, triste dona de casa mas espantosa na arte de abanar as glândulas mamárias. Tem um fraquinho por frases elaboradas, não por as compreender mas por achar que quem as profere é possuidor de inteligência superior, logo capaz de compreender o seu talento como actriz. Vive um casamento conturbado com o Jacinto, o que a leva a procurar fora de casa a lenha para o fogo que sente dentro de si.
Jacinto Galo da Costa, honesto traficante de marfim nas horas vagas, respeitado e temido dirigente da “Filarmónica e Cantares Populares”, que lhe ocupa praticamente todo o tempo, levando-o a descurar as necessidades carnais da sua esposa, bem como a ser o único habitante de Paradança a desconhecer a vida tripla da mesma. Ah, e sofre tanto de gases, que de tal alvitrado dos intestinos tendo por banda sonora sons abjectos, Engrácia encontrou ali o motivo para pedir o divórcio. Apenas à conta de muita prenda e de muita porrada a conseguiu a custo demover.
Padre Sevícias, respeitado sacerdote de credo desconhecido, apologista da máxima “faz o que te digo e não olhes para o que eu faço”. O latim é a sua salvação, não pela sabedoria que a língua encerra mas por lhe permitir rematar as conversas com algo ininteligível e logo irrefutável. Rumores afirmam que entre o mulherio de Paradança é conhecido como “vergastamásio saltitão”.
Coronel Martim Louceiro, ganhou a patente a jogar à sueca, pois fez toda a guerra do Ultramar escondido nas camaratas, pagando o anonimato com limpezas sub-umbigais, tendo mesmo assim sido condecorado pelos seus ferimentos em combate (causados quando dormia num veículo que servia de alvo para o treino de artilharia). É o dono do Teatro Frio do Dia (que funciona até às 20:32) e do Bordel Apito da Noite (aberto das 20:47 até de madrugada ou o último cliente se cansar). Em ambos os estabelecimentos trabalham o seu filho e Engrácia.
Xico Louceiro, filho do Coronel, assumido intelectual de esquerda, ostentando com orgulho as suas tatuagens de Marx, Lenine e Trotsky. Tem outra tatuagem, parecida com Mao Tse Tung, mas não tem tanto orgulho devido ao local onde esta foi colocada. É o director do Teatro, lugar obtido por cunha do pai. Gosta de falar uma linguagem só sua, constando que leu pelo menos três vezes o dicionário, por forma a aumentar a sua bagagem vocabular. Quem o compreende diz que fala bonito...

Acto 1 – Jacinto procura conselho junto do Padre Sevícias

Jacinto Galo Costa – Padre, ajude-me! Ajude-me que eu até lhe dou um lugarzinho vitalício lá na colectividade, para assistir de camarote aos ensaios do nosso coro “As Tronchudas de Paradança”.
Padre Sevícias – Homem de Deus, diz-me lá o que te preocupa e não me tentes com essas mer... com lugares cativos, que as minhas recompensas são tudo menos materiais.
JGC - Padre, eu vi com estes olhinhos que a terra há-de comer! A minha Engrácia foi possuída!
PS – Tens a certeza, Jacinto? E por quem desta vez? Quer dizer, por alguma entidade maléfica?
JGC – Qual maléfica! Ela está possuída pela religião! Então não é que lhe apareceu marcado na barriga um crucifixo, olhe, igualzinho ao que o senhor aí tem pendurado? Eu já estava habituado a que de vez em quando lhe aparecesse uma marca parecida com a cara dum tipo de barbas, agora um crucifixo?!? Ainda por cima de pés para o ar! O senhor disse “desta vez”?
PS – Não, percebeste mal. Mas isso é maravilhoso, só pode significar que a tua mulher é visitada por alguma entidade divina. E tu, que fizeste?
JGC – Dei-lhe logo um enxerto de porrada, que eu não quero lá santas em casa. Sempre ouvi dizer que as santinhas não gostam de brincadeira e depois como é que eu me aliviava??? Se agora já a custa a convencer, imagine se ela se torna santa! Ainda me lembro da vez que ela teve aquela infecçãozita e fiquei dois meses à mingua, dois meses! Fiquei a conhecer de cor cada azulejo da casa de banho! E o gato ainda hoje me olha de lado!
PS – Ó Jacinto, isso é uma sine capite fabula. Fazes favor deixa a Engrácia em paz. Asseguro-te que o mais certo é em breve o crucifixo passar a estar na posição correcta. É tudo uma questão de vontade do Senhor.
JGC – E as algarviadas que ela me diz? Não percebo nada, até parece o seu Padre a falar! E logo hoje que eu me tinha apinocado todo. Anda um gajo a gastar uma batelada de dinheiro em perfumes caros e isto tem um efeito repelente nas gajas!
PS – Isso são manifestações que te transcendem, Jacinto. Quando assim for, ajoelha-te e reza com ela. E agora vai-te, meu filho, que se faz tarde. Ah, e manda esse perfume para o lixo, que até a mim me custa estar ao pé de ti.
JGC – Mas eu hoje não pus perfume...

Acto 2 – O Teatro Frio do Dia tenta ensaiar a sua nova peça, “Cleópatra e as serpentes brincalhonas”

Colega de Engrácia – Então, Engrácia, ontem “confessaste-te”?
Engrácia das Coxas Salgadas– Ó filha, várias vezes. Estou aqui que não posso da coluna. O sacana do padre tem é de perder a mania de saltar de cima do armário! Diz que pode não me dar prazer nenhum, mas pelo menos deixa-me espalmadinha! Começo a duvidar se este será o melhor caminho para ter a absolvição pelos meus pecados!
Xico Louceiro – As gentis espécimes do género venusiano pretendem no espaço-temporal presente encetar o ensaio ou optaremos por uma cúpula colectiva e intemporal?
ECS – Ai o menino Xico tem uma forma de falar que me derrete toda! Mas fique sossegadinho que ainda estamos a aquecer...
XL – Sei bem o que almejais, minha bípede provida de glândulas mamárias celestiais, mas no momento tenho de insistir que vos limitais à recitação da partitura.
ECS- Hã?
XL – Lê o texto, Engrácia. Começa em “O veneno áspide...”
ECS – “O veneno áspide da tua bondade torna-me a Cleópatra do teu reino”. E isto quer dizer o quê, Xiquinho?
Coronel Martim Louceiro – Quer dizer que se ele puder te enfia a áspide pelo teu reino adentro, Engrácia.
XL – Pai, não lhe tinha já dito que não gosto que me interrompa os ensaios?
CML – E eu não te tinha já dito que quero é que tu metas as gaijas a esfregarem-se sensualmente no poste? Porra, Xico, os animais que cá vêm querem é mamas, estão-se a borrifar para os lirismos!
XL - Um retrógrado regride radiante ruidosa e renitentemente, enquanto abre um sorriso para o futuro incógnito e definido.
CML – E já te avisei para não te meteres com essas conversas comigo. Olha que lá por eu ter deixado metade dos tomates em Angola não quer dizer que não os tenha no sítio e te afinfe uma galheta! E tu, Engrácia, que mania é essa agora de tapares a barriga?
ECS – Sabe, Coronel, é que tenho vergonha...
CML – Vergonha?!? Então tu mostras as mamas, esfregas a peidola na tromba dos clientes e tens vergonha de mostrar a barriga?
ECS – São coisas minhas...
CML – Eu te digo as “coisas minhas”! Xico, quero ter uma conversinha contigo em particular. E já, filho, ou queres que te leve pela orelha?

Acto 3 – Pai e filho dão outro nome ao conflito de Gerações

CML – Filho, até hoje aceitei as tuas manias todas: deixei que fosses cantor, mesmo tu tendo uma voz que até os cães uivavam; permiti que fizesses essas tatuagens esquerdistas, mesmo a do chinês na nádega; pus-te a dirigir o Teatro, apesar das maiores cenas se passarem nos bastidores! Mas agora a minha paciência infinita acabou-se! Esta peça não lembra nem ao diabo! Será que no teu juízo perfeito achas que as pessoas vêm cá para ouvir coisas como “Memórias inóspitas a reabsorver por um despropositado mas crescente sentimento de culpa”…… és uma besta! Uma grandessíssima besta! Ainda me vais levar à ruína!
XL - Não fora esse descomunal e súbito ataque de cretinice, até suporia que outrora foste bafejado por alguns resquícios de genuína inteligência, acaso me equívoco? Ou terei sido o único a encetar caminhos de vivência mais dúbios?
CML – Já te disse para te pores manso comigo! E fui inteligente, fui! Não me orgulho do que fiz, mas eu era como se fosse um objecto consciente, não conseguia combater. Preferi engolir o meu orgulho (e não só) do que andar feito animal pelo mato, matando a torto e a direito, sujeito a levar um balázio. E depois quem é que te sustentava? Quem te pagava o ténis de marca? E a calcinha da moda? É que podes até ser de esquerda mas vestes-te muito à direita!
XL - A ilusão ilude o saudável, constrange e confunde o insano, a ti tudo isto derrete os teus valores construídos de sacarose quebrada pelo ácido da crítica.
CML – Eu te digo a sacarose! E mais te digo! Se te volto a apanhar enrolado na Engrácia, sou eu pessoalmente que vou contar ao Jacinto! Ele manda aí a claque dos Super Cantantes fazerem-te uma espera e vais ver que nunca mais na vida falas bonito! E viras cantor, pois viras, tens garantida uma carreira de tenor na ópera!
XL – Mas meu progen... pai, isso é uma calún... uma peta!
CML – Qual peta qual carapuça! Deves pensar que és o único a saber coisas intimas das artistas, não? E outra coisa! Quero que digas à Engrácia que não quero cá dessas frescuras de esconder a pança. Como é que permites que ela te trate assim? Quem é o Director do Teatro, ela ou tu?
XL – Mas eu prometi-lhe, pai, é que ela anda cheia de remorsos e anda cada vez mais a falar em purificar os seus pecados, a querer contar ao Jacinto tudo o que se passa aqui, comigo, com o strip e pelos vistos contigo! Não a podemos contrariar, afinal é só uma barriguita balofa que se tapa...
CML – Ai ela anda a fazer ameaças? A mim, Coronel Martim Louceiro? Vamos então ver quem conta o quê...

Acto 4 – A última confissão de Engrácia ao Padre Sevícias?

PS – Boa noite, Engrácia.
ECS - Ahh, como sabias que era eu, querido?
PS - Ora, ora, e cantu cognoscitur avis, até porque Eamdem cantilenam canis, sua tonta… e além disso, não existem muitas pessoas em Paradança a usarem um perfume que se topa a dois quilómetros e a vestirem um vison falsificado. E já te disse que não te quero a tratar-me por tu.
ECS – Olha, olha, faça-se de esquisito. A mim chama-me de canis, cabritus, e mais não sei quê, eu nem o posso tratar por tu. Bem me dizia o Xico e as minhas amigas que você...
PS – O quê???? Mas tu atreveste-te a falar de nós??? Não sabes que um homem da minha posição não pode ser associado a mulheres como tu?
ECS – Como eu??? Muita sorte tem você do meu Jacinto não ter percebido quando eu lhe disse que foi o “Senhor” que me marcou com o crucifixo!
PS - Deixas-me completamente estrepitado com todo esse imbróglio que provocaste... não passas de uma rameira desbocada sua cabra!
ECS – Cabra?!? Sua espécie de demónio de batina! Ando eu aqui a ter de andar com a barriga tapada tal a brutalidade com que me caíste em cima! Mentiste-me ao dizeres que era aquele o caminho da absolvição! Mas estavas certo, não me deste prazer nenhum! É muita língua, muito latim mas a minha absolvição, não a vi. Essa história do “vergastamásio” é outra tanga, a única coisa que tens grande é esse cu disforme! Pois acredita que amanhã, mal o meu Jacinto volte da audição com o Juiz, por causa daquele elefante desdentado, irei-lhe contar tudo sobre nós e sobre os meus outros pecados. Sim, porque o meu homem, à parte os gases, ainda é o único que me respeita nesta terra esquecida do mundo. E porra, estou atrasada para o espectáculo!
PS – Engrácia, tu não nos desgraces! Aberratio ictus!
ECS – Sabes onde podes meter o aberrácio? Sabes? Aí mesmo!

Epílogo – O último espectáculo

Engrácia como que renascera, rebolando-se e esfregando-se no poste como nunca. A alegria que sentia por finalmente contar tudo ao marido tinha-lhe renovado a alma. Quantos erros tinha cometido! Quantos pares não tinha enfiado no Jacinto por engano, por despeito e por ter vontade! Começara por dormir com o Coronel, para poder ter acesso ao Teatro, com o Xico para poder ficar com o papel de actriz principal, com outros para compensar a ausência do Jacinto, sempre envolvido na sua Colectividade, e finalmente com o Padre, que lhe tinha assegurado que seria esse o melhor meio de lavar os seus pecados: o sexo com prazer pelo sexo com dor. E todos eles, até o Padre, estavam hoje ali, assistindo ao seu último espectáculo. Claro que o Jacinto era capaz de reagir mal ao princípio, até era menino para lhe dar uma tareia, mas o risco valia a pena. Naquela noite, Paradança deixaria de alimentar o seu fogo, e voltaria ao seu papel de esposa obediente junto do único homem que nunca a enganara. E como seria bom assistir ao que o marido iria fazer aos que o traíram!

De repente a luz apaga-se! Quando se acende novamente, o horror: a sua barriga exibia, num vermelho vivo, o crucifixo invertido! Uma multidão de rostos conhecidos aponta-lhe o dedo e gritos ecoam do meio da turba enlouquecida:
Gaijo qualquer 1 - É o anti-cristo!!!
CML – Morte ao demónio! É ela a responsável pela crise económica, pelo aumento da gasolina e por termos perdido a guerra colonial!
PS - Amordacem-na, não vá ela lançar obscenidades sobre nós! Mors omnia solvit! Nunc aut nunquam!
XL – Ó meretriz propulsionadora de efémeros afagamentos ao órgão reprodutor! Que sejas obliterada pela audácia da simples existência!
Todos – ÃNH???
XL – Matem a gaija!

Em menos dum nada, e aproveitando a ausência de Jacinto, Engrácia das Coxas Salgadas viu-se no meio duma chuva de pontapés, socos e algumas apalpadelas à mistura. Foi conduzida ao pelourinho da vila e ali sumariamente julgada e condenada por todos os pecados que até então afligiam a população de Paradança. E foi decidido que seria o fogo a lavar a honra daquela terra, num último Auto de Fé.


E assim chegamos ao fim. Ainda nem a fogueira estava ateada e lá estava a Águia , na sua altivez resplandecente, rasgando os céus em círculos meticulosa e elegantemente calculados , num jogo onde o fim inevitável adquire um sabor a morte. Porra, pareço o Xico Louceiro a falar! Perceberam, não perceberam? A Engrácia quinou...


«Este post foi elaborado por RAFEIRO PERFUMADO através de uma colaboração de bloguistas onde o BIGMAC e o OUTRO forneceram as seguintes palavras: Áspide, Reabsorver, Cognoscitur, Ilusão, Águia, Repelente, Alvitrado, Retrógrado, Descomunal e Estripitado. IRRITADINHA e DAMULARUSSA constituíram com as palavras as seguintes frases: “O veneno áspide da tua bondade torna-me a Cleópatra do teu reino”, “Um retrógrado regride radiante ruidosa e renitentemente, enquanto abre um sorriso para o futuro incógnito e definido”, “Anda um gajo a gastar uma batelada de dinheiro em perfumes caros e isto tem um efeito repelente nas gajas!”, “Alvitrado dos intestinos tendo por banda sonora sons abjectos, Engrácia encontrou ali o motivo para pedir o divórcio.”, “A ilusão ilude o saudável, constrange e confunde o insano, a ti tudo isto derrete os teus valores construídos de sacarose quebrada pelo ácido da crítica.”, “Não fora esse descomunal e súbito ataque de cretinice , até suporia que outrora foste bafejado por alguns resquícios de genuína inteligência, acaso me equívoco?”, “Memórias inóspitas a reabsorver por um despropositado mas crescente sentimento de culpa ,…….. és uma besta!”, “Ahh, como sabias que era eu, querido?...Ora, ora E cantu cognoscitur avis, até porque Eamdem cantilenam canis., sua tonta…”, “Deixas-me completamente estrepitado com todo esse imbróglio que provocaste …..não passas de uma rameira desbocada sua cabra!” e “Lá estava a Águia , na sua altivez resplandecente, rasgando os céus em círculos meticulosa e elegantemente calculados , num jogo onde o fim inevitável adquire um sabor a morte.”.»

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

«Sopra musgos, recebe torrentes, embala lágrimas que escorrem para dentro, agita sonos vácuos, mas não alimenta brisas emancipadas nem chega a...

...atentar contra o estado da ausência inadvertida»



Nothing as it seems



Don't feel like home,.. he's a little out...
And all these words elope,.. it's nothing like your poem...
Putting in,.. inputting in,.. don't feel like methadone...
Scratching voice.. all alone,.. it's nothing like your baritone
It's nothing as it seems,.. the little that he needs,. it's home
The little that he sees,.. is nothing. He concedes,.. it's home

One uninvited chromosome,.. a blanket like the ozone.
It's nothing as it seems, all that he needs,. it's home...
The little that he frees,.. is nothing, he believes...

Saving up a sunny day,.. something maybe two tone...
Anything to call his own,.. a chip off the cornerstone...
Who's kidding, rainy day,...one way ticket headstone...
Occupations overthrown,.. a whisper thru a megaphone...

It's nothing as it seems,... the little that he needs,... it's home
The little that he sees, ..is nothing. He concedes,. it's home...
And all that he frees,... a little bittersweet,.. it's home...
It's nothing as it seems,.. the little that you see,.. it's home...

(palavras de outros que se inteiram deste lado em agradecimentos perplexos, reconhecimentos genéticos, espantos reflexos, realidades degustadas na instabilidade de certezas férreas, virtualidades marcantes, desgastantes, cortantes…a vida…quase alheia…)

Daqui para a frente…OUTRO…

«O pior é que, dentro do vendaval que me insufla a presença, o ar não chega para aventurar expulsões.»

A mesma
Lesma
Rosna a gosma rastejada, asquerosa e babosa
Visco arisco, torna o rasto pestilento, nojento, basto e azarento
Traça pistas revistas e confusas, desalinha listas difusas
Tosca
Vesga
Lenta morte adiada, escarra a denúncia desejada, mostra a culpa bruta
Alastra
Sem casca
Não é caracol que desliza no orvalho
É uma reles substituta, a …...do …... (aqui, o leitor mais esclarecido com o destrato deverá completar com um insulto composto com sua arte…tem é de rimar nem que seja numa só parte)
Esbatida
Cuspida
Esborrachada, esventrada, perfeita desfeita ao corpo
Inchada até ao estado morto
A caminho do céu debaixo de um sapato só meu
Baba-te agora na viagem, ser amorfo de coragem
Desfruta, ….... (de novo um espacinho no qual o leitor poderá ser mesquinho através da repetição superior de um dos insultos que usou na arte anterior)


(mais que violência racional, aqui está um reconhecimento ao mais distinto repugnante animal num trecho tão profundo e revelador como um dos outros onde se detecta a dor…eventual)

domingo, 28 de janeiro de 2007

Diálogo mudo da vida


Menino nascido na areia, meu menino. É rei. Quando ele era adolescente, recordo-me bem de o teu avô lhe dizer: "Dunas? Que vocábulo ridículo para aludires a um simples par de mamas!”. Fiquei triste por ele não compreender a sensibilidade do filho. Criei para o teu pai um mundo especial. Fechou-se num horizonte limitado pelo egoísmo de uma imunda paixão. Criada por mim. Paixão sim! Que uma mãe sente paixão pelos seus filhos, e é uma paixão egoísta! Foi necessário protegê-lo de teu avô… Inspirada pelo meu menino ainda com poucas semanas de vida, ditei algo bonito O diálogo mudo da vida, acredito que por isso ele cresceu no Labirinto de uma vida inexoravelmente adiada. Adiada é certo, de sentimentos torpes. Escuta…

«Vida, mãe da racionalidade, primórdio de todos os medos. Sorumbática estrela, luminoso negrume da humanidade. Término das divindades. Equinócio da perfeição. De vontades ilícitas e explicitas. Meretriz de luxo, desejada por todos, tocada por alguns apenas. Extasiada por poucos. Amada por nenhum. Sobriamente embriagada pela sensibilidade desfocada. Nela, há ainda uma esperança vestigial, como as patas das cobras. Desnuda de sentido, repleta de significado, adornada de dúvidas. Perfumada com mentiras. Maquilhada de ilusões, as alvas mãos da sabedoria cartesiana, que te conduzem a uma verdade inútil. Fútil. Humanidade que delirou com a consciência que aquela ave era realmente assexuada, como um esquálido demónio alado.

Que bonita e agradável imagem têm estes humanos de mim. Acéfalos.

“Deixa-me ser ignorante, uma folha em branco sem pena e tinta para a preencher de medonhos conceitos, a minha insignificante existência. Não me escondas na caverna, é escura de ti. Tu, dom que eu pedi, és uma maldição. Sou cobarde, tenho medo de sofrer, e não sei usar este dom. Leva-me daqui! Por favor!”

O celibato foi então traído vezes sem conta, num desespero inigualável, o celibato que impuseste à compreensão, e por isso, suplicas. Estúpido humano. Sentes prolepses catarticas do que por mim ainda não passou. Humanidade miserável. Rasteja, implora pela vida, quando obtida pede exílio, recusa o que generosamente ofertei. Execra a forma como me dei. Os dejectos de uma Paz hipnoticamente presente... Não sejas cruel! Nem contigo, nem comigo. Não me retires funções!

Como te atreves a renegar a dádiva? Sabes o esforço que foi, conferir-te parte de mim? Como me queres eliminar se faço parte de ti?

Audaz cobarde… apelidando-me de maldição… Ante um vazio de oportunidades e uma multidão de emoções o medo corrosivo é inevitável. Leviatã dos tiranos. Toneladas de inteligência e criatividade trocadas por reles cêntimos de comodidade.Fumegando de desassossego. Definhando pausadamente, esperando por um instante de atenção, uma réstia de humanismo iluminado, renascido por um qualquer demagogo barroco de fenomenologia dogmática.

Não te farei a vontade. Sou complexa, assustadora, mas não maléfica. Fonte das bases que precisas desenvolver, não o cessar de ti em mim.Gostas de simbologias? Eu, de simbolismos, sou instituída…Existem quatro elementos, todos diferentes e complementares entre si. Atenda no que te digo, excepções destas não se repetem. A água que refresca, lava a alma, purifica, é a reminiscência do espírito, infância escondida, amarrada a ideias quadrúpedes, de instintos predatórios primários. Aquece-a com o fogo, que, acalenta e alenta, coze a carne e congela o tacto, maiêutica da experiência. Descongela a alma com o ar quente, mas lembra-te, ele é poderoso e enigmático, quente e frio, dualidade nos trajes, o mesmo coração. Para filar essa dualidade agarra-te à terra, fecunda, fonte da maior segurança e dos coices mais imprevisíveis, origem do epicurismo que conduz ao sibilante estoicismo. Nutre-a com a água. Equilíbrio dinâmico. Pedaços de mim, que queres afogar no teu medo, adurir na tua dúvida, asfixiar com o nulo e por fim, enterrar, num local longe de ti. Para evitar remorsos. Não queres parir a consciência, receias as dores, os rasgos de alma que ela te causará. As insónias mal dormidas de pensamentos anestésicos.

Humanidade… território do medo, pátio do meu orgulho… Minha essência! Naquele espaço iluminado eram os diamantes que indicavam a entrada, mas nunca a saída… esse espaço a que chamam vida, espaço esse que sou eu. Vibrante… Coração inuit, primitivamente pintado a tons ebulioscópicos… tu!

Meu bom selvagem… um desapiedado vai mostrar-te a minha sensibilidade quando no escuro prenderes a minha cor, e no ruído reconheceres o meu silêncio. No nevoeiro me verás definida… sentirás o meu toque aquando da tua inércia em querer morder o meu odor…

Salgadas serão as alegrias e doces as mágoas. Aí poderei, confiante, afirmar que finalmente chegou…ao núcleo. O teu encontro com a verdade, a nossa unificação.Percebes tudo o que te revelei? Sei que sim.Coloca-te em frente ao espelho. É uma ordem, vai! Que vês?»

Percebes porque teu pai é aquele por quem Juno se apaixonou perdidamente? Minerva, tua irmã, aquela marota … Dentro de tudo o sempre foi liberal, acotovelou-se para gritar a esperança… Nasceu já adulta, menina criada e sabedora… Foi um parto interessante, sem dúvida. Honra te seja feita, a irrefutável similitude entre ti e Minerva é o facto de seres sua antagónica. Minerva é deusa da sabedoria e da guerra justa, tu jovem Marte, és o deus da guerra sangrenta. Quando Vénus esbarrigar Cúpido e Harmonia vais compreender o que agora li. Sim tens razão. Foi Minerva quem escreveu este conto, eu, tua avó Cíbele, apenas ofereci a inspiração, ditei ideias, não escrevi uma linha, foi Minerva quem articulou as minha soltas ideias… Nunca ignores a sabedoria de Minerva, nem a julgues fraca por ser uma das duas virgens… em Tróia algo aprenderás com a tua irmã… Dorme meu neto, a Mãe dos Deuses concede essa honra ao bravo filho de Júpiter…


«Este post foi elaborado por IRRITADINHA através de uma colaboração de bloguistas onde o BIGMAC e o RAFEIRO PERFUMADO forneceram as seguintes palavras: assexuada, liberal, Minerva, dunas, iluminado e celibato, horizonte, núcleo, labirinto, paz. DAMULARUSSA e OUTRO constituíram com as palavras as seguintes frases: “Fechou-se num horizonte limitado pelo egoísmo de uma imunda paixão.”, “Cresceu no Labirinto de uma vida inexoravelmente adiada”, “Os dejectos de uma Paz hipnoticamente presente......Não sejas cruel!”, “Honra te seja feita, a irrefutável similitude entre ti e Minerva é o facto de seres sua antagónica”, "Dunas? Que vocábulo ridículo para aludires a um simples par de mamas!” e “Delirou com a consciência que aquela ave era realmente assexuada”, “O celibato foi então traído vezes sem conta, num desespero inigualável”, “Dentro de tudo o sempre foi liberal, acotovelou-se para gritar a esperança”, “Naquele espaço iluminado eram os diamantes que indicavam a entrada, mas nunca a saída”, “Finalmente chegou…ao núcleo”.»

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

«Isto, partindo, será fácil de inteirar. Basta-me, a mim, espirrar os cacos do espelho, que sem querer mastiguei com os olhos, e recortar...

...do infinito as variáveis que ajudam a delimitar a coisa. Feito isto, está feito. Isto.»

Dedilhando cada osso, num contorcionismo atroz.
Resta a aparência certa de cada um de nós. A casca inquebrável geme soslaios vislumbrados a cada aresta. Insinuações sinuosas, insonsas, intragáveis, remontam aos ventos vindos. Onde foi que a razão se prendeu? Para onde fugiram os olhos? E os cheiros? E…

Em assomos brilhantes, resvalam para a desgraça todas sensações absurdas. Surdas.
Gestos entranhados, lestos e tentados.
Desfaz-se amor com abraços. Laços.
Fecundam-se leitos. Desfeitos.
Desmembram-se afectos. Fetos. Parem-se insultos que condensam ao esbarrar no gelo da indiferença ausente. Precipitam os favos da cumplicidade sublime na degustação alternativa daquilo que, em tempos, enfartava. Anorexias tão recorrentes como o enclausuramento etéreo. Está torcido o corpo.

Adormecer o esquecimento em meandros defeituosamente esquiçados, rasurados, docemente trespassados…brancos. Brancos, são os corvos alvos em matilhas sedentas de tempo e de olhares cativantes. Esburacam órbitas ciclópicas na tentação da dor. Repastam na idade. Repostam na fuga. Rapam os indícios. Voam…sorrindo em grasnos quedantes e vertiginosamente dispersos. Detríticos. Dendítricos. Dispensáveis. Regenerantes. Revitalizantes da alegria inocente. Memórias adquiridas num futuro quase ausente, mas emergente. De novo os voos rasantes…alados no sorriso. São jovens enrugados já perdidos na decomposição putrefacta do que ainda não alcançaram. Impacientes pelo desespero alheado. Rígidos. Enormes na sua contemplação incompletamente submersa. Aviltada. Inversa. Deitam-se os avessos. Morrem travessos. Atravessados. Simplesmente arremessados.

Mas qual revolta? Revolvo a postura que se disfarça no ser. Embalo a competição desgarrada na forma. Até na ira. Mágoa opticamente inadvertida. Dorme silêncio cutâneo. Carrega o sonho nas costas escorregadias. Agita-te nas palavras. Mói as presenças enfermas. Deixa-te ir na mistura de cada cor efémera. Dorme…

(em paz)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Rasgos na memoria, ou lucidez inócua?


Caia a tarde, os raios solares já entorpecidos desciam sobre ti iluminando-te o rosto inexpressivo, o olhar apático perdia-se no horizonte , cobria-te uma manta puída pelo uso, segura pelas mãos inertes e engelhadas. A arrogante altivez outrora manifestada esvaíra-se no tempo …ahh, como o tempo nos rouba até a vida . Conheci-te quando? Há 50 anos talvez, chegaste vindo do nada, naquela manhã resplandecente , transportando contigo um mundo de fantasias que não ousaria nunca nem sonhar. Ficaste por uns dias, que se transformaram em meses. O meu irmão Joaquim andava radiante,"fFnalmente uma companhia masculina para me acompanhar nos devaneios", dizia. Os dias foram seguindo o seu percurso pouco rotineiro, a paz que outrora respeitara as nossas vidas, foi remetida para longínquas paragens e a avidez daquele olhar sedento, que em segredo percorria o meu corpo efervescente, foi adquirindo cumplicidade, apesar da tentativa de insana recusa. Como pode provocar os desejos mais violentos de qualquer aberração ou doença acometida, tal olhar? Não…não quero…não!! Passava o tempo, acometido de mil desejos e sensações abjuradas. Aquela noite transbordante de uma luminosidade apaixonante exercera sobre mim um fascínio incomensurável. Tu adormeceras recostado na enorme espreguiçadeira do alpendre e eu, imprudentemente, não resistira a olhar-te de mais perto, parecias agitado, aproximei-me, sentindo cada vez mais próximo o intenso aroma de cada pedaço da tua pele. As mãos tremiam-me, agitadas por uma comoção inevitavelmente estranha, era inegável que desde sempre aquela respiração próxima rondava-a como um abutre obstinado em variações circulares ao redor da sua jugular, e agora que estava ali tão à mercê de mim retraia-me pela ambiguidade do momento, numa luta sem tréguas entre o certo e o errado….."Espera"…e senti as tuas mãos provocadoras tocarem-me, o nosso sangue pulsava na mesma cadencia de um cavalo sem freio correndo em liberdade, "estavas agitado, sonhavas? " - " Não...quando durmo pareço um vulcão, é na lava que adormeço e nas cinzas vou despertando e tu és o meu mais belo despertar…" -"Deixa-me..o meu irmão está a chegar. Pode ver-nos...não…por favor....e tentava libertar-me do teu abraço quente e desejado …"-"Largue-a!" O grito ecoou agressivo e elevador da prudência e do respeito". Era a "nha preta" que vigiava no silêncio da noite." -" Vai dormir 'mammy', não há problema….vai.."Foram tantos os momentos…lembras-te quando por brevíssimos instantes de uma intimidade nunca publicamente havida, me mostraste o teu lado mais execrável , perguntando "mas não se arranja uma mulata?", olhando ironicamente a velha preta que me amamentara e onde nessa negada realeza se erguiam mais e maiores valores, grandeza que havias descoberto abruptamente na noite anterior e, da forma mais vil, vingavas o teu desejo interrompido……como ousaste sequer sugerir? Olhei-te com indignação e tu, ainda em tom provocatório, tal como um aprendiz de feiticeiro, contribui com o seu olhar alaranjado para a efervescência do caldeirão" replicaste -" Que queres, um homem tem as suas necessidades e além demais…bom…tu sabes…!", Odiei-te por isso.
Trimmm…a campainha tocara freneticamente…Devo ter dormido, que sonho estranho…- "Quem é?.."Vem ver os gatos que nasceram esta semana, avó"…..são lindos", gritou… e numa tentativa de segurar o preto que parecia o mais reguila…"cuidado, não agarres o pequeno, olha que a mãe arranha-te"... sonhara...
Agora ali estavas tu, inerte, sem desejos ou tesões contidas, sem brilho, um resto zero onde a soma dos dois foi um nulo resultado. Sem cumplicidades ou afectos, e por um ínfimo instante os nossos olhares voltaram a cruzar-se na mudez da vida. Extraordinário como até naquele silencio no buço pode haver um diálogo intenso. -"Avó vem para dentro,já arrefeceu. Vou fazer um chá para nós .. A agua já borbulha " e sorriu...Borbulha? Pois vai continuar a borbulhar, faz-te à vida!..pensei, antes que a inépcia a invada e a torne insípida, desgastada pelo tempo, sem lugar a retornos do ser-se feliz…..vai sim filha, antes que seja tarde...
E num sussurro imperceptível lançou no vento um "em breve meu amor...em breve..."


"Este post foi elaborado por DAMULARUSSA através de uma colaboração de bloguistas onde a IRRITADINHA e o RAFEIRO PERFUMADO forneceram as seguintes palavras: feiticeiro, vulcão, mulata, abutre, arranha,buço, realeza, borbulha, elevador e doença . BIGMAC e OUTRO constituíram com as palavras as seguintes frases "como um aprendiz de feiticeiro, contribui com o seu olhar alaranjado para a efervescência do caldeirão" "quando durmo pareço um vulcão, é na lava que adormeço e nas cinzas vou despertando", "mas não se arranja uma mulata?" "aquela respiração próxima rondava-a como um abutre obstinado em variações circulares ao redor da sua jugular" "não agarres o pequeno…arranha",Extraordinário como até naquele silencio no buço pode haver um diálogo intenso" "onde nessa negada realeza se erguiam mais e maiores valores", "Borbulha? Pois vai continuar a borbulhar, faz-te à vida!", "o grito ecoou agressivo e elevador da prudência e do respeito", "como pode provocar os desejos mais violentos de qualquer aberração ou doença acometida"

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

«Ora, sendo do domínio dos equilíbrios pseudo-comatosos que 6 delas estão perfeitamente resolvidas, fica que faltam equacionar as restantes.»

É métrica a aritmética do fim.
A têmpora dilui-se no bafo da pólvora.
Tingem-se as verdades de carmim. Ciano é o sufoco. A cobra de que tanto se ouviu cantar afinal não é longa, nem velha nem tem a pele fria. É um minúsculo verme adérmico, acéfalo, atemporal, que rói os alvéolos pulmonares e rompe a pleura. Desvirginam-se ares não antes expirados. Inspiram-se tréguas numa bronquite quase asmática. Purificadora. Petrificante.

O dentro é anil. Anis como o desgosto. Pegajoso. Cristalino. Enjoativo. Falso doce. Docemente acre. Inebriante. Rasca. Lembram-se dois corpos homogeneamente unos pelo que a imaginação permite. Despem-se com os lábios, gastam-se com os dedos. Amores em futuros nunca escritos. Erros semânticos, disformas gramaticais ortograficamente gravados. Agrafados.

As mãos, já sem palmas, perdem as impressões e deixam vazar os anos, um a um, a cada movimento. Regenerando as rugas da incerteza. Esbraceja para apanhar as lâminas dos sentidos. Sentido! Já só a cadeira existe. E o tampo, na mesa. Os murros.

Com tantas guerras de anjos, porque foi logo este cair? Deste lado? Agora combates o unto com as sobras, cão! Raivoso pela magreza. Escanzelado pela fartura. Rico pela dádiva. Cheio de amanhãs…

São mudos e ensurdecedores os pensamentos que se ouvem a cada última vez. Aperta a coronha. Atreve a interrupção do estrondo:

“Pára! Antes de vomitares, deixa-me chorar…”

(Por um momento, não temos a responsabilidade de matar tudo o resto?)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

É louco (Ência, ou o nascimento de algo)


De repente, todo o meu mundo líquido se drenou…pelo que diziam as leis da biologia que me obriguei a intuir, estava na hora. Era este o momento!

Algures, entre Meca e o Dubai, minha Mãe tinha emprenhado 176 dias antes. A sua vontade de se libertar do que nunca tinha tido levara-a ali, àquela areia quente, àquele vulto masculino, a fazer parte daquelas duas sombras nocturnas de gente. Pouco passava das quatro da manhã.
Sensualmente espalhou perfume em si. Desesperadamente sorria. Silenciosamente foi-se aconchegando no chão. Nunca imaginou fazer tal coisa na areia! Muito menos ali, naquela luz cega e insinuada. Aliás, pelo que ela me ia cantando pelas paredes uterinas - entre um choro sorrido e um sorriso molhado - nunca o tinha pensado fazer, ponto final. Mas sem perceber muito bem como, ali estava, aberta como a claridade lunar, brilhante como o deserto.
“Não me tocas?” perguntou ela;
“Não me pediste para ver a cor do amor?” respondeu uma voz densa, que cada vez mais parecia não passar disso mesmo;
“Sim, era esse o objectivo, ver a côr…mas não posso também cheirar o grito? Tocar o aroma? Ouvir o sabor? Saborear a pele?”;
“Agora não…em breve…não agora…”;
“Não sejas tão seco!”. Foram estas as últimas palavras a dois. Estava sozinha, ali. Ela, a lua, a areia, a vontade e o amor, todos se combinavam no mesmo deserto de tudo. Adormeceu pendurada na madrugada que, então, estava a acordar…

A mesma madrugada chamava por mim agora, lá fora.
“E se eu fico todo sujo?” pensei “E se aquilo sempre é o que a minha Mãe cala?”
Nada a fazer. Por esta altura já aquela quase-luz me tinha vestido, tal como fez com a noite. Já não eram as estrelas que me esperavam no mundo. Era música. A música invadiu o ambiente. A música, umas vozes e uns quantos silêncios.
Tentei lembrar-me e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada, mas encolhido pelos medos alheios que me atravessavam as células.
Não foi o sol que me amparou. Nem a chuva, como me tinham prometido. Foi uma angústia feita de neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão. Lá estava a tal multidão em alvoroço pelo que esperava não ver, ainda.
Eram feitos de nada os urros amordaçados pelo espanto. Mas chegavam e não partiam. Enchiam-me a cabeça em vagas de dor e arrepio.
“Não pode ser!” gritou uma criança, logo arrastada pelos cabelos para junto de um pai que não sabia não o ser. “Não pode ser…” murmurava o padre, pai da criança sem o saber. “Não pode ser.” chorava a mãe da criança, que aproveitava para despejar o peso do que sabia. Era o pecado que unia aquela gente a mim. Era a luxúria a nossa placenta. Era promíscuo cada centímetro do cordão que nos cozia os umbigos.

Sem esperar que me tocassem, olhei uma última vez para a minha Mãe, agarrei todo o ar poluído que consegui morder, dei-lhe um trago tão fundo como a inspiração que recebi no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo (aquele triangulo que agora se definia de novo, como antes da primeira madrugada) e…gargalhei! As minhas mais sonoras e prolongadas gargalhadas.

As primeiras, mas não as últimas. Nunca!

N…a…s…c…i!


"Este post foi elaborado por OUTRO através de uma colaboração de bloguistas onde DAMULARUSSA e IRRITADINHA forneceram as seguintes palavras: Perfume, Areia, Sujo, Musica e Seco; Vidro, Madrugada, Sujo, Seco e Dubai. BIGMAC e RAFEIRO PERFUMADO constituíram com as palavras as seguintes frases: “no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo"; "entre Meca e o Dubai"; "e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada"; "sim, esse era o objectivo, ver a côr"; "neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão" e “Sensualmente espalhou o perfume em si.”; “Nunca imaginou fazer tal coisa na areia!”; “E se eu fico todo sujo?”; “A música invadiu o ambiente”; “Não sejas tão seco!”"

São 34 as equações que reflectem num espelho a aura do que não existe

Ora, sendo do domínio dos equilíbrios pseudo-comatosos que 6 delas estão perfeitamente resolvidas, fica que faltam equacionar as restantes.

Isto, partindo, será fácil de inteirar. Basta-me, a mim, espirrar os cacos do espelho, que sem querer mastiguei com os olhos, e recortar do infinito as variáveis que ajudam a delimitar a coisa. Feito isto, está feito. Isto.

O pior é que, dentro do vendaval que me insufla a presença, o ar não chega para aventurar expulsões. Sopra musgos, recebe torrentes, embala lágrimas que escorrem para dentro, agita sonos vácuos, mas não alimenta brisas emancipadas nem chega a atentar contra o estado da ausência inadvertida. Ali repousa, ali tranquila, ali chama, ali apaga, mas nunca pousa, nunca aniquila, nunca brasa, e pouco mais acende. E depois, nem sempre as batalhas que reservo comigo, são destravadas por outros. Quanto muito, ganhas. Quase sempre, empatas.

O que varia, avaria. Avaramente.

É tão curto, tão próximo, tão meticuloso que raramente deixa a infinidade do lato quase senso. Não é comum, mas sente. Sente-se. Senta-te. Ali ficamos. Entre a variância das letras finais terminam as dúvidas que questionam a matemática das coisas geometricamente esfumadas, num tempo em que raramente ocorrem fenómenos raros, concorrendo, entretanto, para um resultado amorfo na igualdade pela grandiosidade solidária entre amores rasgados pela multiplicidade da divisão. Ou será pela subtracção adicionada? Também não interessa, já que as aritméticas se urdem em fogos-fátuos, não em fumos factuais.

São tantas as vontades de conseguir, finalmente, a resolução das matérias importantes, que depressa se vai a circulação pulmonar dos sangues oxigenados pela quietude dos aurículos em melodias compassadas por ventrículos que, não sendo ventríloquos, sempre auxiliam outros murmúrios sussurrantes em sonoros silêncios. Tudo muito próximo da transparência vítrea que, muito provavelmente, se desvia em padrões quase regressivos, mas certamente rectos.

E depois chega a luz das coisas, por fagulhas atreitas a queimaduras de graus recuperáveis em faixas alvas e desengorduradas. Dói a pele, mas não o nervo. Brilham as vértebras duma espinha que se atravessa no ténue fio que queremos esticar até à deformação do comprimento. Cumprimento. Mas sem saudar. Que dessa conclusão aparece as saudade de soslaio. Espreita mas de costas, a traiçoeira. Cospe mas de nada. É voraz mesmo de quem nunca viu. Escondo-me. Começou por tudo, e agora vai ali. Devagar. De vagar. A vagar. Encarrilam-se muito suavemente os trilhos do marasmo locomotor. Há apitos e avisos. Mas nunca apareceram as vides do aceno. São fortes as evidências. E as pálpebras.

Encandeiam as íris reviradas. Está quase, aquela altura em que o quase já esteve, e nem se deu. Por isso. Continuando tão depressa como a intenção de um relógio não desenhado, lá se vai enrolando a corda de aço por entre as más impressões digitadas na superfície dos gumes serrilhados e arrombados pela brutalidade com que a leveza da tolerância se vai rebolando em golpes mais ou menos distraídos.

Cerram-se os dentes logo depois do atraso da retirada da língua. Reparam-se os lábios. Está na hora. As equações afinal não variam. As variáveis não reflectem. O espelho, esse, ficou finalmente obscuramente baço. Morto. A aura, sempre inexistente, lá se vai fazendo notar. Os números remexem para se reordenarem. O tempo está já ali, trémulo. As certezas lá vão rastejando logo depois do tutano. Afinal, foi quase tão incerto como parecia parecer.

Mas equaciona-se…
.
.
.

(confortavelmente instalado na irrazoabilidade das constantes)