quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

«Sopra musgos, recebe torrentes, embala lágrimas que escorrem para dentro, agita sonos vácuos, mas não alimenta brisas emancipadas nem chega a...

...atentar contra o estado da ausência inadvertida»



Nothing as it seems



Don't feel like home,.. he's a little out...
And all these words elope,.. it's nothing like your poem...
Putting in,.. inputting in,.. don't feel like methadone...
Scratching voice.. all alone,.. it's nothing like your baritone
It's nothing as it seems,.. the little that he needs,. it's home
The little that he sees,.. is nothing. He concedes,.. it's home

One uninvited chromosome,.. a blanket like the ozone.
It's nothing as it seems, all that he needs,. it's home...
The little that he frees,.. is nothing, he believes...

Saving up a sunny day,.. something maybe two tone...
Anything to call his own,.. a chip off the cornerstone...
Who's kidding, rainy day,...one way ticket headstone...
Occupations overthrown,.. a whisper thru a megaphone...

It's nothing as it seems,... the little that he needs,... it's home
The little that he sees, ..is nothing. He concedes,. it's home...
And all that he frees,... a little bittersweet,.. it's home...
It's nothing as it seems,.. the little that you see,.. it's home...

(palavras de outros que se inteiram deste lado em agradecimentos perplexos, reconhecimentos genéticos, espantos reflexos, realidades degustadas na instabilidade de certezas férreas, virtualidades marcantes, desgastantes, cortantes…a vida…quase alheia…)

Daqui para a frente…OUTRO…

«O pior é que, dentro do vendaval que me insufla a presença, o ar não chega para aventurar expulsões.»

A mesma
Lesma
Rosna a gosma rastejada, asquerosa e babosa
Visco arisco, torna o rasto pestilento, nojento, basto e azarento
Traça pistas revistas e confusas, desalinha listas difusas
Tosca
Vesga
Lenta morte adiada, escarra a denúncia desejada, mostra a culpa bruta
Alastra
Sem casca
Não é caracol que desliza no orvalho
É uma reles substituta, a …...do …... (aqui, o leitor mais esclarecido com o destrato deverá completar com um insulto composto com sua arte…tem é de rimar nem que seja numa só parte)
Esbatida
Cuspida
Esborrachada, esventrada, perfeita desfeita ao corpo
Inchada até ao estado morto
A caminho do céu debaixo de um sapato só meu
Baba-te agora na viagem, ser amorfo de coragem
Desfruta, ….... (de novo um espacinho no qual o leitor poderá ser mesquinho através da repetição superior de um dos insultos que usou na arte anterior)


(mais que violência racional, aqui está um reconhecimento ao mais distinto repugnante animal num trecho tão profundo e revelador como um dos outros onde se detecta a dor…eventual)

domingo, 28 de janeiro de 2007

Diálogo mudo da vida


Menino nascido na areia, meu menino. É rei. Quando ele era adolescente, recordo-me bem de o teu avô lhe dizer: "Dunas? Que vocábulo ridículo para aludires a um simples par de mamas!”. Fiquei triste por ele não compreender a sensibilidade do filho. Criei para o teu pai um mundo especial. Fechou-se num horizonte limitado pelo egoísmo de uma imunda paixão. Criada por mim. Paixão sim! Que uma mãe sente paixão pelos seus filhos, e é uma paixão egoísta! Foi necessário protegê-lo de teu avô… Inspirada pelo meu menino ainda com poucas semanas de vida, ditei algo bonito O diálogo mudo da vida, acredito que por isso ele cresceu no Labirinto de uma vida inexoravelmente adiada. Adiada é certo, de sentimentos torpes. Escuta…

«Vida, mãe da racionalidade, primórdio de todos os medos. Sorumbática estrela, luminoso negrume da humanidade. Término das divindades. Equinócio da perfeição. De vontades ilícitas e explicitas. Meretriz de luxo, desejada por todos, tocada por alguns apenas. Extasiada por poucos. Amada por nenhum. Sobriamente embriagada pela sensibilidade desfocada. Nela, há ainda uma esperança vestigial, como as patas das cobras. Desnuda de sentido, repleta de significado, adornada de dúvidas. Perfumada com mentiras. Maquilhada de ilusões, as alvas mãos da sabedoria cartesiana, que te conduzem a uma verdade inútil. Fútil. Humanidade que delirou com a consciência que aquela ave era realmente assexuada, como um esquálido demónio alado.

Que bonita e agradável imagem têm estes humanos de mim. Acéfalos.

“Deixa-me ser ignorante, uma folha em branco sem pena e tinta para a preencher de medonhos conceitos, a minha insignificante existência. Não me escondas na caverna, é escura de ti. Tu, dom que eu pedi, és uma maldição. Sou cobarde, tenho medo de sofrer, e não sei usar este dom. Leva-me daqui! Por favor!”

O celibato foi então traído vezes sem conta, num desespero inigualável, o celibato que impuseste à compreensão, e por isso, suplicas. Estúpido humano. Sentes prolepses catarticas do que por mim ainda não passou. Humanidade miserável. Rasteja, implora pela vida, quando obtida pede exílio, recusa o que generosamente ofertei. Execra a forma como me dei. Os dejectos de uma Paz hipnoticamente presente... Não sejas cruel! Nem contigo, nem comigo. Não me retires funções!

Como te atreves a renegar a dádiva? Sabes o esforço que foi, conferir-te parte de mim? Como me queres eliminar se faço parte de ti?

Audaz cobarde… apelidando-me de maldição… Ante um vazio de oportunidades e uma multidão de emoções o medo corrosivo é inevitável. Leviatã dos tiranos. Toneladas de inteligência e criatividade trocadas por reles cêntimos de comodidade.Fumegando de desassossego. Definhando pausadamente, esperando por um instante de atenção, uma réstia de humanismo iluminado, renascido por um qualquer demagogo barroco de fenomenologia dogmática.

Não te farei a vontade. Sou complexa, assustadora, mas não maléfica. Fonte das bases que precisas desenvolver, não o cessar de ti em mim.Gostas de simbologias? Eu, de simbolismos, sou instituída…Existem quatro elementos, todos diferentes e complementares entre si. Atenda no que te digo, excepções destas não se repetem. A água que refresca, lava a alma, purifica, é a reminiscência do espírito, infância escondida, amarrada a ideias quadrúpedes, de instintos predatórios primários. Aquece-a com o fogo, que, acalenta e alenta, coze a carne e congela o tacto, maiêutica da experiência. Descongela a alma com o ar quente, mas lembra-te, ele é poderoso e enigmático, quente e frio, dualidade nos trajes, o mesmo coração. Para filar essa dualidade agarra-te à terra, fecunda, fonte da maior segurança e dos coices mais imprevisíveis, origem do epicurismo que conduz ao sibilante estoicismo. Nutre-a com a água. Equilíbrio dinâmico. Pedaços de mim, que queres afogar no teu medo, adurir na tua dúvida, asfixiar com o nulo e por fim, enterrar, num local longe de ti. Para evitar remorsos. Não queres parir a consciência, receias as dores, os rasgos de alma que ela te causará. As insónias mal dormidas de pensamentos anestésicos.

Humanidade… território do medo, pátio do meu orgulho… Minha essência! Naquele espaço iluminado eram os diamantes que indicavam a entrada, mas nunca a saída… esse espaço a que chamam vida, espaço esse que sou eu. Vibrante… Coração inuit, primitivamente pintado a tons ebulioscópicos… tu!

Meu bom selvagem… um desapiedado vai mostrar-te a minha sensibilidade quando no escuro prenderes a minha cor, e no ruído reconheceres o meu silêncio. No nevoeiro me verás definida… sentirás o meu toque aquando da tua inércia em querer morder o meu odor…

Salgadas serão as alegrias e doces as mágoas. Aí poderei, confiante, afirmar que finalmente chegou…ao núcleo. O teu encontro com a verdade, a nossa unificação.Percebes tudo o que te revelei? Sei que sim.Coloca-te em frente ao espelho. É uma ordem, vai! Que vês?»

Percebes porque teu pai é aquele por quem Juno se apaixonou perdidamente? Minerva, tua irmã, aquela marota … Dentro de tudo o sempre foi liberal, acotovelou-se para gritar a esperança… Nasceu já adulta, menina criada e sabedora… Foi um parto interessante, sem dúvida. Honra te seja feita, a irrefutável similitude entre ti e Minerva é o facto de seres sua antagónica. Minerva é deusa da sabedoria e da guerra justa, tu jovem Marte, és o deus da guerra sangrenta. Quando Vénus esbarrigar Cúpido e Harmonia vais compreender o que agora li. Sim tens razão. Foi Minerva quem escreveu este conto, eu, tua avó Cíbele, apenas ofereci a inspiração, ditei ideias, não escrevi uma linha, foi Minerva quem articulou as minha soltas ideias… Nunca ignores a sabedoria de Minerva, nem a julgues fraca por ser uma das duas virgens… em Tróia algo aprenderás com a tua irmã… Dorme meu neto, a Mãe dos Deuses concede essa honra ao bravo filho de Júpiter…


«Este post foi elaborado por IRRITADINHA através de uma colaboração de bloguistas onde o BIGMAC e o RAFEIRO PERFUMADO forneceram as seguintes palavras: assexuada, liberal, Minerva, dunas, iluminado e celibato, horizonte, núcleo, labirinto, paz. DAMULARUSSA e OUTRO constituíram com as palavras as seguintes frases: “Fechou-se num horizonte limitado pelo egoísmo de uma imunda paixão.”, “Cresceu no Labirinto de uma vida inexoravelmente adiada”, “Os dejectos de uma Paz hipnoticamente presente......Não sejas cruel!”, “Honra te seja feita, a irrefutável similitude entre ti e Minerva é o facto de seres sua antagónica”, "Dunas? Que vocábulo ridículo para aludires a um simples par de mamas!” e “Delirou com a consciência que aquela ave era realmente assexuada”, “O celibato foi então traído vezes sem conta, num desespero inigualável”, “Dentro de tudo o sempre foi liberal, acotovelou-se para gritar a esperança”, “Naquele espaço iluminado eram os diamantes que indicavam a entrada, mas nunca a saída”, “Finalmente chegou…ao núcleo”.»

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

«Isto, partindo, será fácil de inteirar. Basta-me, a mim, espirrar os cacos do espelho, que sem querer mastiguei com os olhos, e recortar...

...do infinito as variáveis que ajudam a delimitar a coisa. Feito isto, está feito. Isto.»

Dedilhando cada osso, num contorcionismo atroz.
Resta a aparência certa de cada um de nós. A casca inquebrável geme soslaios vislumbrados a cada aresta. Insinuações sinuosas, insonsas, intragáveis, remontam aos ventos vindos. Onde foi que a razão se prendeu? Para onde fugiram os olhos? E os cheiros? E…

Em assomos brilhantes, resvalam para a desgraça todas sensações absurdas. Surdas.
Gestos entranhados, lestos e tentados.
Desfaz-se amor com abraços. Laços.
Fecundam-se leitos. Desfeitos.
Desmembram-se afectos. Fetos. Parem-se insultos que condensam ao esbarrar no gelo da indiferença ausente. Precipitam os favos da cumplicidade sublime na degustação alternativa daquilo que, em tempos, enfartava. Anorexias tão recorrentes como o enclausuramento etéreo. Está torcido o corpo.

Adormecer o esquecimento em meandros defeituosamente esquiçados, rasurados, docemente trespassados…brancos. Brancos, são os corvos alvos em matilhas sedentas de tempo e de olhares cativantes. Esburacam órbitas ciclópicas na tentação da dor. Repastam na idade. Repostam na fuga. Rapam os indícios. Voam…sorrindo em grasnos quedantes e vertiginosamente dispersos. Detríticos. Dendítricos. Dispensáveis. Regenerantes. Revitalizantes da alegria inocente. Memórias adquiridas num futuro quase ausente, mas emergente. De novo os voos rasantes…alados no sorriso. São jovens enrugados já perdidos na decomposição putrefacta do que ainda não alcançaram. Impacientes pelo desespero alheado. Rígidos. Enormes na sua contemplação incompletamente submersa. Aviltada. Inversa. Deitam-se os avessos. Morrem travessos. Atravessados. Simplesmente arremessados.

Mas qual revolta? Revolvo a postura que se disfarça no ser. Embalo a competição desgarrada na forma. Até na ira. Mágoa opticamente inadvertida. Dorme silêncio cutâneo. Carrega o sonho nas costas escorregadias. Agita-te nas palavras. Mói as presenças enfermas. Deixa-te ir na mistura de cada cor efémera. Dorme…

(em paz)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Rasgos na memoria, ou lucidez inócua?


Caia a tarde, os raios solares já entorpecidos desciam sobre ti iluminando-te o rosto inexpressivo, o olhar apático perdia-se no horizonte , cobria-te uma manta puída pelo uso, segura pelas mãos inertes e engelhadas. A arrogante altivez outrora manifestada esvaíra-se no tempo …ahh, como o tempo nos rouba até a vida . Conheci-te quando? Há 50 anos talvez, chegaste vindo do nada, naquela manhã resplandecente , transportando contigo um mundo de fantasias que não ousaria nunca nem sonhar. Ficaste por uns dias, que se transformaram em meses. O meu irmão Joaquim andava radiante,"fFnalmente uma companhia masculina para me acompanhar nos devaneios", dizia. Os dias foram seguindo o seu percurso pouco rotineiro, a paz que outrora respeitara as nossas vidas, foi remetida para longínquas paragens e a avidez daquele olhar sedento, que em segredo percorria o meu corpo efervescente, foi adquirindo cumplicidade, apesar da tentativa de insana recusa. Como pode provocar os desejos mais violentos de qualquer aberração ou doença acometida, tal olhar? Não…não quero…não!! Passava o tempo, acometido de mil desejos e sensações abjuradas. Aquela noite transbordante de uma luminosidade apaixonante exercera sobre mim um fascínio incomensurável. Tu adormeceras recostado na enorme espreguiçadeira do alpendre e eu, imprudentemente, não resistira a olhar-te de mais perto, parecias agitado, aproximei-me, sentindo cada vez mais próximo o intenso aroma de cada pedaço da tua pele. As mãos tremiam-me, agitadas por uma comoção inevitavelmente estranha, era inegável que desde sempre aquela respiração próxima rondava-a como um abutre obstinado em variações circulares ao redor da sua jugular, e agora que estava ali tão à mercê de mim retraia-me pela ambiguidade do momento, numa luta sem tréguas entre o certo e o errado….."Espera"…e senti as tuas mãos provocadoras tocarem-me, o nosso sangue pulsava na mesma cadencia de um cavalo sem freio correndo em liberdade, "estavas agitado, sonhavas? " - " Não...quando durmo pareço um vulcão, é na lava que adormeço e nas cinzas vou despertando e tu és o meu mais belo despertar…" -"Deixa-me..o meu irmão está a chegar. Pode ver-nos...não…por favor....e tentava libertar-me do teu abraço quente e desejado …"-"Largue-a!" O grito ecoou agressivo e elevador da prudência e do respeito". Era a "nha preta" que vigiava no silêncio da noite." -" Vai dormir 'mammy', não há problema….vai.."Foram tantos os momentos…lembras-te quando por brevíssimos instantes de uma intimidade nunca publicamente havida, me mostraste o teu lado mais execrável , perguntando "mas não se arranja uma mulata?", olhando ironicamente a velha preta que me amamentara e onde nessa negada realeza se erguiam mais e maiores valores, grandeza que havias descoberto abruptamente na noite anterior e, da forma mais vil, vingavas o teu desejo interrompido……como ousaste sequer sugerir? Olhei-te com indignação e tu, ainda em tom provocatório, tal como um aprendiz de feiticeiro, contribui com o seu olhar alaranjado para a efervescência do caldeirão" replicaste -" Que queres, um homem tem as suas necessidades e além demais…bom…tu sabes…!", Odiei-te por isso.
Trimmm…a campainha tocara freneticamente…Devo ter dormido, que sonho estranho…- "Quem é?.."Vem ver os gatos que nasceram esta semana, avó"…..são lindos", gritou… e numa tentativa de segurar o preto que parecia o mais reguila…"cuidado, não agarres o pequeno, olha que a mãe arranha-te"... sonhara...
Agora ali estavas tu, inerte, sem desejos ou tesões contidas, sem brilho, um resto zero onde a soma dos dois foi um nulo resultado. Sem cumplicidades ou afectos, e por um ínfimo instante os nossos olhares voltaram a cruzar-se na mudez da vida. Extraordinário como até naquele silencio no buço pode haver um diálogo intenso. -"Avó vem para dentro,já arrefeceu. Vou fazer um chá para nós .. A agua já borbulha " e sorriu...Borbulha? Pois vai continuar a borbulhar, faz-te à vida!..pensei, antes que a inépcia a invada e a torne insípida, desgastada pelo tempo, sem lugar a retornos do ser-se feliz…..vai sim filha, antes que seja tarde...
E num sussurro imperceptível lançou no vento um "em breve meu amor...em breve..."


"Este post foi elaborado por DAMULARUSSA através de uma colaboração de bloguistas onde a IRRITADINHA e o RAFEIRO PERFUMADO forneceram as seguintes palavras: feiticeiro, vulcão, mulata, abutre, arranha,buço, realeza, borbulha, elevador e doença . BIGMAC e OUTRO constituíram com as palavras as seguintes frases "como um aprendiz de feiticeiro, contribui com o seu olhar alaranjado para a efervescência do caldeirão" "quando durmo pareço um vulcão, é na lava que adormeço e nas cinzas vou despertando", "mas não se arranja uma mulata?" "aquela respiração próxima rondava-a como um abutre obstinado em variações circulares ao redor da sua jugular" "não agarres o pequeno…arranha",Extraordinário como até naquele silencio no buço pode haver um diálogo intenso" "onde nessa negada realeza se erguiam mais e maiores valores", "Borbulha? Pois vai continuar a borbulhar, faz-te à vida!", "o grito ecoou agressivo e elevador da prudência e do respeito", "como pode provocar os desejos mais violentos de qualquer aberração ou doença acometida"

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

«Ora, sendo do domínio dos equilíbrios pseudo-comatosos que 6 delas estão perfeitamente resolvidas, fica que faltam equacionar as restantes.»

É métrica a aritmética do fim.
A têmpora dilui-se no bafo da pólvora.
Tingem-se as verdades de carmim. Ciano é o sufoco. A cobra de que tanto se ouviu cantar afinal não é longa, nem velha nem tem a pele fria. É um minúsculo verme adérmico, acéfalo, atemporal, que rói os alvéolos pulmonares e rompe a pleura. Desvirginam-se ares não antes expirados. Inspiram-se tréguas numa bronquite quase asmática. Purificadora. Petrificante.

O dentro é anil. Anis como o desgosto. Pegajoso. Cristalino. Enjoativo. Falso doce. Docemente acre. Inebriante. Rasca. Lembram-se dois corpos homogeneamente unos pelo que a imaginação permite. Despem-se com os lábios, gastam-se com os dedos. Amores em futuros nunca escritos. Erros semânticos, disformas gramaticais ortograficamente gravados. Agrafados.

As mãos, já sem palmas, perdem as impressões e deixam vazar os anos, um a um, a cada movimento. Regenerando as rugas da incerteza. Esbraceja para apanhar as lâminas dos sentidos. Sentido! Já só a cadeira existe. E o tampo, na mesa. Os murros.

Com tantas guerras de anjos, porque foi logo este cair? Deste lado? Agora combates o unto com as sobras, cão! Raivoso pela magreza. Escanzelado pela fartura. Rico pela dádiva. Cheio de amanhãs…

São mudos e ensurdecedores os pensamentos que se ouvem a cada última vez. Aperta a coronha. Atreve a interrupção do estrondo:

“Pára! Antes de vomitares, deixa-me chorar…”

(Por um momento, não temos a responsabilidade de matar tudo o resto?)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

É louco (Ência, ou o nascimento de algo)


De repente, todo o meu mundo líquido se drenou…pelo que diziam as leis da biologia que me obriguei a intuir, estava na hora. Era este o momento!

Algures, entre Meca e o Dubai, minha Mãe tinha emprenhado 176 dias antes. A sua vontade de se libertar do que nunca tinha tido levara-a ali, àquela areia quente, àquele vulto masculino, a fazer parte daquelas duas sombras nocturnas de gente. Pouco passava das quatro da manhã.
Sensualmente espalhou perfume em si. Desesperadamente sorria. Silenciosamente foi-se aconchegando no chão. Nunca imaginou fazer tal coisa na areia! Muito menos ali, naquela luz cega e insinuada. Aliás, pelo que ela me ia cantando pelas paredes uterinas - entre um choro sorrido e um sorriso molhado - nunca o tinha pensado fazer, ponto final. Mas sem perceber muito bem como, ali estava, aberta como a claridade lunar, brilhante como o deserto.
“Não me tocas?” perguntou ela;
“Não me pediste para ver a cor do amor?” respondeu uma voz densa, que cada vez mais parecia não passar disso mesmo;
“Sim, era esse o objectivo, ver a côr…mas não posso também cheirar o grito? Tocar o aroma? Ouvir o sabor? Saborear a pele?”;
“Agora não…em breve…não agora…”;
“Não sejas tão seco!”. Foram estas as últimas palavras a dois. Estava sozinha, ali. Ela, a lua, a areia, a vontade e o amor, todos se combinavam no mesmo deserto de tudo. Adormeceu pendurada na madrugada que, então, estava a acordar…

A mesma madrugada chamava por mim agora, lá fora.
“E se eu fico todo sujo?” pensei “E se aquilo sempre é o que a minha Mãe cala?”
Nada a fazer. Por esta altura já aquela quase-luz me tinha vestido, tal como fez com a noite. Já não eram as estrelas que me esperavam no mundo. Era música. A música invadiu o ambiente. A música, umas vozes e uns quantos silêncios.
Tentei lembrar-me e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada, mas encolhido pelos medos alheios que me atravessavam as células.
Não foi o sol que me amparou. Nem a chuva, como me tinham prometido. Foi uma angústia feita de neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão. Lá estava a tal multidão em alvoroço pelo que esperava não ver, ainda.
Eram feitos de nada os urros amordaçados pelo espanto. Mas chegavam e não partiam. Enchiam-me a cabeça em vagas de dor e arrepio.
“Não pode ser!” gritou uma criança, logo arrastada pelos cabelos para junto de um pai que não sabia não o ser. “Não pode ser…” murmurava o padre, pai da criança sem o saber. “Não pode ser.” chorava a mãe da criança, que aproveitava para despejar o peso do que sabia. Era o pecado que unia aquela gente a mim. Era a luxúria a nossa placenta. Era promíscuo cada centímetro do cordão que nos cozia os umbigos.

Sem esperar que me tocassem, olhei uma última vez para a minha Mãe, agarrei todo o ar poluído que consegui morder, dei-lhe um trago tão fundo como a inspiração que recebi no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo (aquele triangulo que agora se definia de novo, como antes da primeira madrugada) e…gargalhei! As minhas mais sonoras e prolongadas gargalhadas.

As primeiras, mas não as últimas. Nunca!

N…a…s…c…i!


"Este post foi elaborado por OUTRO através de uma colaboração de bloguistas onde DAMULARUSSA e IRRITADINHA forneceram as seguintes palavras: Perfume, Areia, Sujo, Musica e Seco; Vidro, Madrugada, Sujo, Seco e Dubai. BIGMAC e RAFEIRO PERFUMADO constituíram com as palavras as seguintes frases: “no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo"; "entre Meca e o Dubai"; "e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada"; "sim, esse era o objectivo, ver a côr"; "neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão" e “Sensualmente espalhou o perfume em si.”; “Nunca imaginou fazer tal coisa na areia!”; “E se eu fico todo sujo?”; “A música invadiu o ambiente”; “Não sejas tão seco!”"

São 34 as equações que reflectem num espelho a aura do que não existe

Ora, sendo do domínio dos equilíbrios pseudo-comatosos que 6 delas estão perfeitamente resolvidas, fica que faltam equacionar as restantes.

Isto, partindo, será fácil de inteirar. Basta-me, a mim, espirrar os cacos do espelho, que sem querer mastiguei com os olhos, e recortar do infinito as variáveis que ajudam a delimitar a coisa. Feito isto, está feito. Isto.

O pior é que, dentro do vendaval que me insufla a presença, o ar não chega para aventurar expulsões. Sopra musgos, recebe torrentes, embala lágrimas que escorrem para dentro, agita sonos vácuos, mas não alimenta brisas emancipadas nem chega a atentar contra o estado da ausência inadvertida. Ali repousa, ali tranquila, ali chama, ali apaga, mas nunca pousa, nunca aniquila, nunca brasa, e pouco mais acende. E depois, nem sempre as batalhas que reservo comigo, são destravadas por outros. Quanto muito, ganhas. Quase sempre, empatas.

O que varia, avaria. Avaramente.

É tão curto, tão próximo, tão meticuloso que raramente deixa a infinidade do lato quase senso. Não é comum, mas sente. Sente-se. Senta-te. Ali ficamos. Entre a variância das letras finais terminam as dúvidas que questionam a matemática das coisas geometricamente esfumadas, num tempo em que raramente ocorrem fenómenos raros, concorrendo, entretanto, para um resultado amorfo na igualdade pela grandiosidade solidária entre amores rasgados pela multiplicidade da divisão. Ou será pela subtracção adicionada? Também não interessa, já que as aritméticas se urdem em fogos-fátuos, não em fumos factuais.

São tantas as vontades de conseguir, finalmente, a resolução das matérias importantes, que depressa se vai a circulação pulmonar dos sangues oxigenados pela quietude dos aurículos em melodias compassadas por ventrículos que, não sendo ventríloquos, sempre auxiliam outros murmúrios sussurrantes em sonoros silêncios. Tudo muito próximo da transparência vítrea que, muito provavelmente, se desvia em padrões quase regressivos, mas certamente rectos.

E depois chega a luz das coisas, por fagulhas atreitas a queimaduras de graus recuperáveis em faixas alvas e desengorduradas. Dói a pele, mas não o nervo. Brilham as vértebras duma espinha que se atravessa no ténue fio que queremos esticar até à deformação do comprimento. Cumprimento. Mas sem saudar. Que dessa conclusão aparece as saudade de soslaio. Espreita mas de costas, a traiçoeira. Cospe mas de nada. É voraz mesmo de quem nunca viu. Escondo-me. Começou por tudo, e agora vai ali. Devagar. De vagar. A vagar. Encarrilam-se muito suavemente os trilhos do marasmo locomotor. Há apitos e avisos. Mas nunca apareceram as vides do aceno. São fortes as evidências. E as pálpebras.

Encandeiam as íris reviradas. Está quase, aquela altura em que o quase já esteve, e nem se deu. Por isso. Continuando tão depressa como a intenção de um relógio não desenhado, lá se vai enrolando a corda de aço por entre as más impressões digitadas na superfície dos gumes serrilhados e arrombados pela brutalidade com que a leveza da tolerância se vai rebolando em golpes mais ou menos distraídos.

Cerram-se os dentes logo depois do atraso da retirada da língua. Reparam-se os lábios. Está na hora. As equações afinal não variam. As variáveis não reflectem. O espelho, esse, ficou finalmente obscuramente baço. Morto. A aura, sempre inexistente, lá se vai fazendo notar. Os números remexem para se reordenarem. O tempo está já ali, trémulo. As certezas lá vão rastejando logo depois do tutano. Afinal, foi quase tão incerto como parecia parecer.

Mas equaciona-se…
.
.
.

(confortavelmente instalado na irrazoabilidade das constantes)